ARTICULISTAS

Laboratório de emoções

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 03/10/2022 às 19:02Atualizado em 16/12/2022 às 00:41
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Tem gente que se emociona à toa, não sei se é o seu caso. Trata-se de algo muito subjetivo, difícil de medir. O que eu sei é que todo mundo se emociona, uns mais, outros menos. Será que os animais também se emocionam? Será que existe alguém que não tenha emoções? Cada pessoa é emotiva do seu jeito. Uns choram baixinho, pelos cantos, com timidez; outros gritam, explodem com raiva, dão risadas estrondosas, precisam contar ao mundo o que estão sentindo. E você?

Abraços são reflexos de emoções: abraços apaixonados, tristes, abraços de conforto, de alegria, de acolhimento, todos revelam sentimentos, até abraços formais e constrangidos sinalizam emoções, inclusive desprezo, um sentimento que indica falta de estima, de empatia, de compreensão pelo que o outro está passando. Beijos, apertos de mão, inúmeros gestos e a famosa palmadinha nas costas também deixam transparecer emoções. As expressões faciais, o jeito de abrir e fechar os olhos, de mexer os lábios, as caras e bocas são características importantes na identificação dos sentimentos, de amizade, de respeito, mágoa, nojo, desconsolo, etc., é difícil esconder.

Alguns adultos tentam abafar as manifestações de carinho, de ternura, de bem-querer, de decepção, de entusiasmo, entre outras demonstrações parecidas. Crianças são mais espontâneas, mais autênticas, menos contidas na hora de expressar suas emoções. Algumas crescem tranquilas; outras, por terem vivido a infância em ambientes de muita repressão, de medo e de punições, tornam-se adultos tristes, ignorantes de afetos e outras ignorâncias. Políticos oportunistas são especialistas em fingir sentimentos.

A fazenda do meu avô era um grande laboratório de emoções. A observação das árvores, do clima, dos animais e das relações entre as pessoas que por lá passavam enriqueceu nossa concepção do mundo, ampliou nossa leitura da realidade. Convivíamos com árvores que se enchiam de frutas doces de tempos em tempos, com lindas revoadas de pássaros, com ventanias, chuvas torrenciais, trovoadas que nos assustavam, com o céu claro e o cheiro bom de terra molhada após a chuva forte. Notávamos com entusiasmo o início da florada das mangueiras, sentíamos com apreensão a água fria do córrego que passava no fundo do quintal no instante de pular no poço da cachoeira. Apreciávamos as palavras de estímulo, as boas sensações na hora de tratar dos animais, de oferecer uma espiga de milho aos cavalos, de olhar os cachorros que se esparramavam no chão à espera de comida e de afago. Eram situações especiais, igualmente pedagógicas, embora existissem os momentos tristes e de consternação.

Desconfie das pessoas que dizem não ter emoções ou que censuram as emoções alheias. Máquinas não têm emoções e eles querem nos transformar em meras engrenagens para executar o que desejam, sem o direito de recusar. No lugar de emoções, tentam nos comprar com badulaques e bijuterias, com ilusões, mercadoria barata e mentiras. Você vai cair nessa velha história?

Renato Muniz B. Carvalho

 

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