Não sei se está acontecendo com vocês, mas eu estou com dificuldade para dormir. A cada dia que passa, a dificuldade aumenta. Acabo dormindo tarde, o sono é ruim, acordo no meio da noite, é um desastre.
Estou vendo a hora em que vou trocar o dia pela noite. As consequências podem ser terríveis. Temo pela minha saúde, pela minha sanidade mental e capacidade de concentração, que já é diminuta. O que será que está acontecendo?
Resolvi pensar seriamente no assunto. O primeiro item examinado foi a agitação urbana, a algazarra das ruas, os sons do entorno. Reparei que é grande a quantidade de carros que buzinam à noite e os que trafegam como se fossem estações de rádio ambulantes, perambulantes insones, doentes. São pobres seres noturnos que assombram as ruas com seus gritos horripilantes de solidão, assustando crianças e idosos.
Imagino que seja urgente um esforço do poder público para estudar e encontrar um jeito de acolher essas criaturas perturbadas. Associados a esses nômades motorizados estão os estabelecimentos noturnos que fazem do som alto uma estratégia para entorpecer os fregueses. Uma solução seria investir na formação musical dos jovens para tentar deter o avanço dos ruídos perniciosos que detonam nossa frágil civilização.
Outro problema detectado foi a intensidade e a difusão crescente da luz à noite. A ideia óbvia de que o dia é claro e a noite é escura parece ter perdido o significado. Não é preciso ser um gênio para chegar a essa constatação. Não sei desde quando, na história da humanidade, existe esse negócio de que devemos dormir à noite e trabalhar de dia, mas tem sido assim e nunca vi nenhum movimento contrário a isso, nenhuma manifestação ou protesto político. Se a quantidade de insones crescer muito, isso pode ser uma tendência. Às vezes, no futuro, teremos sociedades onde o normal será trabalhar à noite e dormir de dia.
Meio bizarro, mas quem sou eu para me meter em profecias estranhas? A solução será comprar cortinas grossas e instalar em todas as janelas, gastar uma grana, mas deve melhorar. O problema é perder a noção do tempo. Outro dia, acordei assustado às sete horas da manhã e percebi que o dia já ia longe, estava escuro e não tinha eclipse. Tive um trabalhão para desatravancar o tempo.
Finalmente, duas questões me deixaram pensativ o uso cada vez mais intenso de aparelhos eletrônicos, como celulares e computadores, e certos humores sociopolíticos tóxicos. A primeira questão é nova, mas a solução existe, basta fazer um esforço para diminuir nossa dependência das redes sociais. A segunda questão me deixa apavorado. Como dormir bem diante de certos comportamentos absurdos que estão despontando com frequência cada vez maior? O povo está perdendo a noção das coisas, é de tirar o sono. O que fazer?
Renato Muniz B. Carvalho
