Em determinadas épocas do ano, muita gente reclama de cansaço. Eis uma queixa generalizada, com razão ou sem razão. Atinge desde gente nova até os mais velhos, sem discriminação. Pode durar apenas um instante, mas pode durar a vida inteira. Dizem as más línguas que algumas pessoas já nascem cansadas. Acontece principalmente às segundas-feiras, nos meses frios, nos fins e inícios de ano, nos dias de chuva, daquelas que começam cedinho e costumam durar o resto do dia. Fica pior quando você está sentado — mal sentado, diga-se de passagem — na frente da televisão, assistindo a alguma coisa que você nem sabe do que se trata. Simplesmente, você sentou e ficou. O barulho e o brilho do aparelho não te deixam pensar ou mudar de atitude.
O cansaço pode ter causas físicas, mentais, neurológicas, psicológicas, sociais, etc. As soluções são complexas. Tem cansaço relacionado à fome, ao analfabetismo, à falta de perspectiva na vida, ao consumo excessivo de medicamentos e por aí afora. Eu desconfio que o cansaço seja contagiante, socialmente falando.
É difícil livrar-se do tipo comum de cansaço. Tudo conspira contra. Existem outras modalidades de cansaço, como, por exemplo, o cansaço advindo de visões políticas que desconsideram a história; a canseira proveniente de autoritarismos que acobertam interesses particulares, como dos que gostam de tirar vantagem em tudo. Há o cansaço que resulta na deformação da realidade para beneficiar grupos que sempre se dão bem. A coisa não para por aí, mas não quero cansar vocês com esses detalhes sórdidos.
Os diversos tipos de cansaço não anulam a ação, as mudanças de atitude, a urgência do pensamento crítico, mas dificultam, retardam e adiam as transformações necessárias. “Não vai dar certo” é uma fórmula conhecida, tão forte quanto seu aparente oposto, o famoso “Vai dar certo”, dito sem lastro na realidade, sem base na práxis política.
Algumas ações são importantes para mudar esse cenário que afeta vastos setores da sociedade atingidos pelo cansaço. Pode-se consultar psicólogos, padres, pastores, influenciadores digitais e até conselheiros sentimentais, mas serão atitudes pontuais. Podem dar certo, mas também podem piorar tudo no caso de interpretações deturpadas.
Eu recomendo a leitura de livros, muitos livros, um só vai adiantar pouco. Livros diversos, novos e antigos, clássicos ou modernos, de todos os gêneros literários. Jornais e revistas também ajudam, mas não eliminam os sintomas por completo. Pensa comigo: você pega um livro e, se te interessou, lê até o fim. Daí, arranja alguém para conversar com você sobre a leitura e, se for o caso, passa pra frente, conversa com seu companheiro, companheira, filhos, pais, amigos. A coisa vai se espalhando, o entusiasmo volta, dá vontade de mudar o mundo. A leitura também é contagiante. Aí, você está a um passo de acabar com o seu cansaço. Vamos nessa?