Descobri que um casal de amigos, de Uberaba, está de mudança para São Paulo. Decidi, então, escrever sobre as buscas incessantes de quem já vive aqui e sobre o que eles vão ou não encontrar nessa nova aventura. “Em São Paulo, ou você está buscando um apartamento ou um amor”. Essa é uma daquelas frases que, tempos depois, a gente não vai nem se lembrar de onde veio. Mas se tornam tão verdadeiras, que você agarra para si e tem a sensação de que aquilo saiu, puramente, da sua boca. Eu ousaria dizer – agora, sim, diretamente da minha boca – que, na maioria das vezes, estamos buscando as duas coisas e ao mesmo tempo. É por isso que há essa ideia, tão latente, cantada por Criolo, de que “não existe amor em SP”. Sim, existe. Mas a procura por esse bem é tão grande, que gera uma alta demanda e o preço a se pagar por um coração preenchido pode ser caro demais. Muito mais se a procura for por um daqueles na planta, onde você será o primeiro morador, algo raro em uma cidade tão populosa. Escrevo isso com propriedade, pelas vezes que tentei entrar em corações que não estavam totalmente desocupados. Com a pressa de fazer dar certo, cheguei já com os dois pés na porta, decidido que alugaria o espaço inteiro. Mas é só quando você passeia pelo local, aparentemente novo, abrindo as janelas e percorrendo o interior dos cômodos, que você descobre um quartinho empoeirado, lá no fundo, com rastros de que alguém ainda vive ali. O antigo inquilino, provavelmente, vai ter esquecido ou deixado de propósito um tanto de lembranças que o proprietário, às vezes, resolve armazenar. Tudo bem guardado, encaixotado, mas sem aquela fita colante resistente, sendo fácil abrir memórias a qualquer momento. Quem chegou até ali fica surpreso ao perceber que, talvez, tenha que dividir essa moradia com um velho estranho qualquer. O problema maior é que, justamente, nessa hora, você precisa dar uma resposta se vai ou não fechar o negócio, sem a garantia de que o espaço ainda ocupado ficará vago por completo em algum momento. Ou se, com uma ou duas reformas, você conseguirá consertar as rachaduras e as marcas deixadas pelas pessoas que residiram ali antes de você. Do lado de fora, tem mais gente, mesmo sem espaço, tentando entrar na briga pela vaga desse coração que você não sabe se vai alugar. Mari e Victor, o casal do começo do texto, como bons mineiros, estão vindo precavidos. Eles têm muito amor na mala e um contrato imobiliário já assinado. Espero, então, que encontrem, de fato, o que vieram buscar por aqui. Por outro lado, eu e tantos outros paulistanos continuaremos incessantemente sendo despejados de corações ainda alugados, em busca dos que, raramente, estão livres em uma cidade tão populosa como São Paulo. No mais, sejam muito bem-vindos, amigos!
Vinícius Silva
Uberabense; jornalista e um apaixonado pela arte de ouvir e contar histórias
@mealugoparaouvirhistorias