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Miguel Damiani, um tenor uberabense

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 17/12/2020 às 18:54Atualizado em 19/12/2022 às 05:45
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O professor e cantor Miguel Damiani nasceu em Uberaba, em 11 de julho de 1921, descendente de uma antiga e conceituada família de origem italiana, residente em Uberaba. Era neto do Sr. Antônio Damiani, conhecido comerciante local, dono da afamada Confeitaria Central (na rua Bueno Brandão, atual Manoel Borges) e do Restaurante Damiani (na rua Artur Machado). Antônio Damiani era também sócio da firma “Damiani & Bossini”, proprietária dos cinemas Alhambra e Capitólio (que se tornou, posteriormente, cine Royal).

Miguel foi aluno do Colégio Marista Diocesano de Uberaba, onde frequentou os cursos primário e ginasial e se destacou como desportista.

Aos vinte anos, em 1941, seguiu para a capital paulista, onde fez o Magistério, acrescido de um período complementar que o levou a obter o registro de professor de nível secundário. Residiu em São Paulo durante 14 anos, dos quais onze atuando como docente do Colégio Marista Arquidiocesano, no bairro Vila Mariana, onde lecionou os seguintes conteúdos: Português, História, Ciências e Desenho. Foi também professor de latim no Colégio Nossa Senhora do Carmo, dos Irmãos Maristas, nas imediações da Praça da Sé, bem no coração da cidade.

Em São Paulo, resolveu estudar canto, pois tinha uma bela voz de tenor. Iniciou seus estudos com o professor Francisco Murini e, logo depois, aprimorou seus dotes vocais com o famoso tenor italiano Giulio Lucchiari. Mas, indiscutivelmente, Miguel obteve grandes progressos sob os cuidados da professora Hermínia Russo, do Conservatório Musical de São Paulo.

Em 1953, o uberabense Miguel Damiani esteve na Itália. No país dos seus antepassados, reduto maior da arte musical e do canto, frequentou um curso de aperfeiçoamento com a notável soprano Lina Pagliughi. Como ele costumava dizer, foram seis meses inesquecíveis, em que ele se aprofundou cada vez mais no domínio da técnica do canto lírico.

De volta ao Brasil, novamente em São Paulo, Miguel retornou aos estudos com a maestrina Hermínia Russo. E ele brilhou em várias audições. Recebeu convites para contratos no rádio e televisão paulistas, como tinha recebido na televisão italiana, em Roma. Mas, nesse momento, um chamado era mais urgente: o filho precisava regressar à casa paterna o quanto antes.

E Uberaba ganhou com tal decisão, pois o Colégio Triângulo passou a ter em seu corpo docente um professor dos mais competentes, e nossas duas escolas de música, o Conservatório Musical de Uberaba (1957) e o Instituto Musical Uberabense (1958), passaram a contar com um excelente professor de canto.

O professor Damiani retornou à sua terra natal no final do ano letivo de 1955. Em Uberaba, resolveu associar-se ao seu irmão Milton Damiani, e juntos adquiriram a “Livraria São Bento”. Este era um estabelecimento com 33 anos de atuação na praça de Uberaba, instalada em amplas dependências do edifício “Juca Duarte”, na rua Vigário Silva, esquina com a Segismundo Mendes.

O novo professor de canto desempenhou aqui funções idênticas às que desempenhou em um dos mais categorizados estabelecimentos musicais de São Paulo, o Conservatório Dramático e Musical. Em nossa cidade, Miguel teve um grande número de alunos de canto, entre os quais: Honorina Barra, Irma Avelar, Arahilda Gomes, Irma Borges, Mirtes Rodrigues Silva, Terezinha Macciotti, Maria Hevenina Lopes Riccioppo, Walter Dias Lemos, Ivan Matos, Hélio Borges e Henri Brandão.

No Conservatório Musical de Uberaba, sucedeu aos professores Tasso Brasileiro Valle (1955) e Eurico Ziffer (1956), assumindo a cadeira de canto em 1957. Foi ele quem preparou a mezzosoprano uberabense, Honorina Barra, para seu ingresso no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro. Sob sua orientação, Honorina ganhou o 1º lugar no V Festival Universitário de Arte, na capital mineira, representando o Conservatório Musical de Uberaba, em setembro de 1957.

Em 1970, Miguel Damiani transferiu-se para Goiânia, atendendo a um convite de sua ex-aluna Honorina Barra. Acabou adotando Goiânia como a cidade onde desenvolveria seu trabalho docente na área do “belcanto”. Fincou raízes em Goiânia, onde se tornou um grande incentivador do canto, ministrando aulas no antigo Curso Técnico em Música do Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás, preparando toda uma geração para ingresso no curso superior de canto. Alguns de seus alunos tornaram-se conceituados professores que enriqueceram o cenário musical goiano, como Honorina Barra, Denise Felipe e Ângelo Dias (natural de Araguari).

É sempre bom relembrarmos músicos valorosos que nasceram em Uberaba e acabaram construindo sólidas carreiras em outros grandes centros. Revisitar o passado é mostrar à geração atual nomes que deram uma enorme contribuição à música não só em nossa cidade, mas também além de seus limites geográficos.

Olga Maria Frange de Oliveira

Professora de piano, regente do Coral Artístico Uberabense, autora do livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba” e ex-diretora-geral da Fundação Cultural de Uberaba

        

        

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