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Polarização política: causa ou consequência?

Nilson de Camargos Roso
Publicado em 14/06/2024 às 18:18
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Sadia é a política com polarização respeitosa e democrática, pois ser democrata é saber conviver com pessoas que pensam diferente, sempre mantendo a urbanidade (capacidade que têm as pessoas educadas e civilizadas de se relacionarem). Nos dias atuais, vemos ações nada elogiáveis nessa polarização política de direita versus esquerda, onde cada lado acredita ter o melhor político, mas se esquecendo que o ideal é algo que existe somente em nossas ideias.

A excessiva polarização leva ao cemitério da inteligência, também chamado de fanatismo. Vejamos, de modo cronológico, como essa polarização ocorreu, baseados em fatos.

Primeiro fato: em 31.12.2010, o presidente Lula terminou seu segundo mandato, com 80% de aprovação popular, segundo a mídia tradicional. Porém, não havia naquela época as redes sociais de hoje, que certamente dariam publicidade a fatos comprometedores não divulgados por aquela mídia. Em 2010, não havia polarização política, mas sim uma monopolização política, com um único “pop star”: o presidente Lula. 

Segundo fato: com a posse da presidente Dilma, inábil e sem coordenação política, surgiram os movimentos de rua, que acabaram a depondo. Nasceu ali o movimento de direita, até então subclínico, pois a direita nunca assumira sua posição.

Terceiro fato: o City Bank foi vendido para o Itaú em 2016, pois, tendo presença em 97 países, as causas trabalhistas no Brasil representavam 93% de todos os seus processos trabalhistas em nível mundial. O presidente Temer fez a reforma trabalhista, que enfraqueceu os sindicatos e, também, a esquerda, estatizante.

Quarto fato: com Bolsonaro, a direita criou corpo, assumiu sua condição, apresentando-se à sociedade de modo público e manifesto. A esquerda, até então reinante por 16 anos, estranhou. Começou aqui a aguerrida polarização.
Quinto fato: participação importante de três ministros do STF. A decisão monocrática do ministro Fachin, “por não ser Curitiba o local correto para julgar”, retornou Lula ao campo político. O ministro Barroso foi ao Congresso e conseguiu trocar os parlamentares que iriam votar a aprovação do voto auditável, impedindo-a.

Na sequência, o ministro Alexandre de Moraes extrapolou todas as perspectivas no sentido de aniquilar as pretensões da direita, espalhando o medo, lembrando Voltaire: “se quiser saber quem controla você, é só observar quem você não pode criticar”. 

Sexto fato: no intervalo do primeiro para o segundo turno da eleição de 2022 para presidente, denunciaram que Lula tinha mais tempo de inserção de propaganda pelo rádio do que Bolsonaro. Dia 26.10.2022, o servidor Alexandre Gomes Machado, assessor de Gabinete da Secretaria Judiciária da Secretaria-Geral da Presidência, denunciou tal fato e foi demitido pelo TSE. Ninguém apurou a denúncia. A campanha de Bolsonaro preparou o filme “Quem mandou matar Bolsonaro?”. A ministra Carmen Lúcia se manifestou: “sou a favor da livre manifestação, de acordo com nossa Constituição. Mas só dessa vez sou contra”, impedindo a exposição do filme.

Sétimo fato: em 12.01.2023, Lula disse: “é preciso acabar com o bolsonarismo nos ministérios”. Nenhuma autoridade comentou, mas se Bolsonaro dissesse o mesmo sobre os lulistas, o cenário seria outro.
Oitavo fato: as decisivas gravações do momento exato da invasão do fatídico dia 8 de janeiro “foram perdidas”, segundo o então ministro da Justiça, agora do STF, Flávio Dino, que já dissera: “enfrentar a direita é pior que enfrentar bandidos”. 

Nono fato: o STF, mesmo sabedor de que “justiça extrema não é justiça”, sinalizou ao brasileiro: “prego que coloca a cabeça fora da tábua leva martelada” – assim atemorizando os sensatos, mas não calando os corajosos, como o desembargador Sebastião Coelho da Silva.

Décimo fato: em dezembro de 2023, o STF comprou 11 SUVs Toyota SW4 blindados, ao custo de R$5 milhões. “Quem planta ventos colhe tempestade” e, ao plantar o medo, o STF adquiriu carros blindados, em verdadeiro “efeito bumerangue”, agora com medo do povo.

A esse conjunto de sinais e sintomas da atual prevalência da esquerda apoiada no STF e na mídia tradicional, levou a direita a se sentir perseguida e criminalizada, sob o sorriso alegre dos esquerdistas que lavaram as mãos, mesmo na morte do Clezão.

O apoio inconteste do STF à esquerda nos permite analogia com as catilinárias: “quousque tandem abutere STF patientia nostra?”.

Em contrapartida, há a Terceira Lei de Newton: “para todas as forças de ação, surgem forças de reação com intensidades iguais, mas sentidos opostos”, que, de forma vicariante, fez a direita acreditar ainda mais em seus próprios princípios.

Conclusão: a polarização chegou ao estado atual em consequência à mão asfixiante do STF sobre a garganta da direita, que ainda sobrevive.

 Nilson de Camargos Roso

Doutor em Anestesiologia; professor aposentado pela UFTM

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