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O processo sucessório para diretor da FMTM em 1985 (parte I)

Nilson de Camargos Roso
Publicado em 15/03/2024 às 21:35
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Era manhã do dia 18 de outubro de 1985, sexta-feira. Eu era diretor clínico do então Hospital Escola e um dos candidatos à direção, sendo o primeiro nome da lista sêxtupla enviada pela Congregação ao MEC. Fui ao Ambulatório Maria da Glória, quando encontrei um grupo de alunos que me disse que o outro candidato à direção da FMTM fora nomeado. O diretor da FMTM era o professor José Fernando Borges Bento, em seu último dia útil de mandato, pois este terminaria dia 20, um domingo. Imediatamente, telefonei para ele, citando a informação dada pelos alunos, e, em seguida, ele telefonou ao ministro das Minas e Energia, Aureliano Chaves. Este, após ouvi-lo, disse ao José Fernando: “telefonaram de Uberaba dizendo que o nosso candidato desistira, mas chamarei o Marcos Maciel, ministro do MEC, solicitando que suste a nomeação”.

Naquele momento, o decreto de nomeação do outro candidato estava nas mãos do secretário da Educação Superior, Gamaliel Herval, faltando apenas a assinatura do presidente Sarney para homologar o ato. Na segunda-feira, dia 21, Aureliano Chaves recebeu em seu gabinete os colegas José Fernando, o diretor da Faculdade de Zootecnia de Uberaba, João Junqueira, e Newton Camargo Araújo, presidente da ABCZ. Às 21h desse dia, recebi o telefonema de Herval, informando a minha nomeação, com ato de posse às 9h no dia seguinte.

Tomei o ônibus, indo para Brasília. Eram 8h45 da terça-feira, dia 22, quando cheguei à sala de espera do secretário Gamaliel, encontrei uma acadêmica da FMTM, defensora de outro nome para a direção (a mesma que em 1989 disse em assembleia que me enviaria as provas dos três professores em dedicação exclusiva que continuavam a atender consultório, mas ela não me enviou). Após cumprimentá-la, perguntei o porquê da presença dela, que me respondeu que falaria com Herval sobre o processo sucessório. Respondi que a minha posse seria às 9 horas. Ela disse: “não acredito, não é possível”. Daí eu tê-la convidado para assistir à minha posse. Ela aceitou, desde que lhe concedesse a palavra durante a posse. Assim aconteceu e ela citou que a minha nomeação foi um ato antidemocrático, usando adjetivos nada elogiáveis.

Retornei à tarde a Uberaba na terça-feira. Nesse dia, alunos se reuniram na sala principal da FMTM assim que ficaram sabendo da minha nomeação.
Na quarta-feira, pela manhã, um professor me telefonou, dizendo que publicara um artigo sobre “a invasão de tropas na FMTM dia 22”. Informei a ele a sequência dos seguintes fatos:

1- alunos disseram, na terça-feira, à Dona Terezinha, que trabalhava na Central Telefônica da FMTM: “é melhor a senhora sair daqui, pois vamos colocar fogo nesta Faculdade”. Pessoalmente, confirmei este fato com a Dona Terezinha;

2- na terça-feira, como não havia mais mandato do antigo diretor e o novo estava ainda sendo empossado, Dona Terezinha avisou o diretor em exercício, o vice-diretor professor Antônio José de Barros, que ficava somente em casa, pois estava com dores por câncer de pâncreas, em fase avançada;

3- Barros comunicou ao comandante do Quarto Batalhão da PM o que a Dona Terezinha ouvira dos alunos;

4- o comandante enviou a tropa, mas esta se manteve na calçada, fora das grades que cercam a FMTM;

5- o capitão Celso Pereira de Almeida foi o único a entrar no recinto da FMTM e, segundo relato dele, “subiu a escada, viu os alunos reunidos, mas de maneira ordeira e pacífica”, o que fez com que se retirasse do recinto e levasse a tropa, que ficara aguardando fora dos limites da FMTM;

6- portanto, ficou claro que não houve a invasão de tropas na FMTM.


Nilson de Camargos Roso

Doutor em Anestesiologia; professor aposentado pela UFTM

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