ARTICULISTAS

O presidente da República é formador de opinião

Nilson de Camargos Roso
Publicado em 05/04/2024 às 18:03
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Todo músculo tem dois pontos de inserção, mas a língua, através do músculo genioglosso, tem uma única inserção na parte posterior, pois sua ponta é livre, mas deve ser presa ou controlada por aquele que fala. Todo ser humano necessita controlar essa ponta. 

Aquele que tem um cargo público deve ter ainda mais cuidado ao falar. Nos períodos em que fui diretor da FMTM, notava que, ao visitar setores do Hospital Escola ou da FMTM, parte dos servidores parava de conversar entre eles e ficava focada nas minhas palavras, mesmo que eu falasse em voz baixa e com um único servidor. O que eu dissesse, fosse um fato sério ou uma brincadeira, ecoava nos demais setores. Após deixar o cargo de diretor, poucos notavam a minha presença ou prestavam atenção às minhas palavras. Era o peso do exercício do cargo.

Um presidente da República, independente da sua ideologia política, é um formador de opinião pública e deve, mais que os demais cidadãos, controlar a ponta da língua, pois o peso do cargo é ainda maior.
Bolsonaro sempre escorregou na casca de banana que ele mesmo jogou, perdendo a eleição para ele mesmo, embora seja um fenômeno político. Há um ano eu dizia que a meta do “establishment” era cassá-lo, fato já ocorrido. A prisão poderá ocorrer a qualquer tempo, pois Janja, a primeira-dama, disse: “se tudo der certo, logo Bolsonaro estará preso”. O presidente Lula tem a minha idade: 78 anos. Não tenho a vivência política dele, mas possuo superego em atividade e sempre fui observador do comportamento humano. Nosso presidente, como é próprio do cargo, deveria ser um aglutinador de pessoas e de ideias. Mas perdeu sua conhecida astúcia e não tem controlado a ponta da língua, gerando desagregação, um dos motivos da queda de sua popularidade. Ao surgirem as redes sociais a grande imprensa perdeu o monopólio da informação, pois essas redes divulgam o que a grande mídia não mostra sobre as falas do atual presidente. Entre dezenas de frases infelizes dele, separei apenas estas:

1- “o agro não votou em mim em 2002, 2006 e 2022. Nada tenho a ver com o agro” (se professores e a área da saúde não tivessem votado nele, ele diria “nada tenho a ver com a educação e a saúde?”);

2- “eu não suporto mais ver um jovem de 14 ou 15 anos ser violentado pela polícia porque roubou um celular” (é a romantização e o vitimismo protegendo o criminoso);

3- “Zema terá remorso ao não me apoiar” (Lula administra com a mão na traqueia do adversário, abrindo sua caixa de Pandora);

4- “conseguimos colocar um comunista no Supremo” (comunismo é ausência de liberdade, além de agressão ao brasileiro, pois mais de 87% da nossa população acredita em Deus, segundo a Fundação Getúlio Vargas e DataFolha);

5- “só vai bem quando eu fuder esse Moro. Eu tô aqui para vingar dessa gente” (onde estão o amor e a união prometidos antes da eleição?);
6- “Israel faz com Gaza o que Hitler fez com os judeus” (a maioria dos brasileiros concorda que foi declaração infeliz).

Lula e Bolsonaro são formadores de opinião pública, mas se mostraram, ao longo do tempo, refratários aos seus conselheiros e acabam colhendo o que plantaram: confusão.

Não pode haver mentira na fala de um presidente, pois esta agrada aos ignorantes, mas agride os inteligentes. Mark Twain adverte: “é mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que elas foram enganadas”. Peter Drucker complementa: “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”. As atitudes do nosso presidente estão prevendo e criando um futuro melhor? O que nos consola é a caixa de Pandora não ter expulsado a esperança.

 Nilson de Camargos Roso

Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM

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