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Cooperativismo: uma das soluções para o desenvolvimento social

Nilson de Camargos Roso
Publicado em 10/01/2025 às 19:08
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O cooperativismo nasceu em 1844, na cidade de Rochdale, Inglaterra, onde a mecanização da Revolução Industrial estava levando trabalhadores qualificados à pobreza. Assim, sem conseguir comprar o básico nos mercados da região, 28 operários – 27 homens e uma mulher – se uniram para montar o próprio armazém e a proposta do grupo era comprar alimentos em grande quantidade, juntos, com preços melhores, oferecendo à população local comida acessível e de boa qualidade em uma época de grande privação.

Em 1889, em Minas Gerais, houve a fundação da Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto. O foco era no consumo de produtos agrícolas.

Dois anos depois da criação da OCB (Organização das Cooperativas do Brasil), a lei 5.764/71 disciplinou a criação de cooperativas com a instituição de um regime jurídico próprio, destacando o papel de representação da OCB, mas trazendo ainda alguns pontos que restringiam, em parte, a autonomia dos cooperados. A Constituição de 1988 acabou com essa limitação, pois a interferência do Estado nas associações ficou proibida, dando início à autogestão do cooperativismo.

Atualmente há sete diferentes ramos de cooperativas:

1. Financeira: Unicred, Sicoob, Sicred, entre outras;

2. Agropecuária: é o maior ramo de cooperativismo no país, 1.233 cooperativas, mais de 990 mil cooperados e mais de 200 mil pessoas empregadas e 48% do produzido no campo passam por uma cooperativa;

3. Consumo: educacionais, lazer, turismo, redes de farmácia e supermercados;

4. Infraestrutura: energia elétrica, irrigação, telefonia, telecomunicação, saneamento básico, construção civil, infraestrutura rodoviária e ferroviária, além da habitação;

5. Trabalho, bens e serviços: produção, mineral, especial, parte do turismo e lazer, parte da educação;

6. Transporte: individual, coletivo e de cargas;

7. Saúde: o cooperativismo de saúde brasileiro serve de modelo para outros países: Unimed (é a maior cooperativa de saúde do mundo com 340 singulares, 150 hospitais próprios, 117.000 médicos cooperados, atende 38% de participação no mercado nacional dos planos de saúde, gerando 143.000 empregos diretos).

A colaboração de pessoas, unidas por meio de um interesse comum, é o conceito chave do cooperativismo, que cresce principalmente com o trabalho no campo.

O cooperativismo, antes de tudo, é um movimento econômico e social que une pessoas em torno de um mesmo objetivo. Assim, nessa ideologia, todos prosperam juntos, com desafios e resultados compartilhados. Como resultado, o símbolo do cooperativismo é a organização onde todos são donos do próprio negócio e as prioridades são as pessoas, e não o lucro.

O cooperativismo obedece a sete princípios:

1- Adesão livre e voluntária; 

2- Gestão democrática;

3- Participação econômica;

4- Autonomia e independência;

5- Educação, formação e informação; 

6- Intercooperação;

7- Interesse pela comunidade.

“O cooperativismo no pensamento marxista”, publicação que procura associar o cooperativismo ao marxismo, não reflete a verdade, pois nos princípios do cooperativismo há as palavras “adesão livre e voluntária”, “gestão democrática”, “participação econômica” e “autonomia e independência”, termos não respeitados pelo marxismo. 

De acordo com a OCB, mais que um modelo de negócios, o cooperativismo fortalece as práticas econômicas e busca “transformar o mundo em um lugar mais justo, feliz, equilibrado e com melhores oportunidades para todos”.

José Luiz Tejon, do agronegócio, afirma que foi realizada pesquisa nas 50 cidades com o melhor e 50 cidades com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH, indicador de alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e outros, com o intuito de avaliar o bem-estar de uma população) no Brasil. Foram excluídas as capitais:

1- as que têm melhor IDH têm também maior número de cooperativismo e de empreendedorismo;

2- as que têm pior IDH: têm o menor número de cooperativismo e de empreendedorismo.

“A competição é a lei da selva, mas a cooperação é a lei da civilização.” Peter Kropotkin, historiador, filósofo, cientista, ativista e revolucionário russo (1842-1921). 

São apaixonantes os frutos colhidos por uma cooperativa bem administrada. “Dificilmente o pequeno produtor teria condições de competir com grandes grupos ou com empresas sem os benefícios do cooperativismo”, completa o especialista em agronegócio da Faculdade de Economia da USP de Ribeirão Preto (FEA-RP/USP), José Carlos de Lima Júnior.

Segundo o programa “Globo Rural” de 06.05.2023, há 4.880 cooperativas no Brasil e uma delas é a Coamo (Cooperativa de Campo Mourão, PR), que encerrou o ano com 30.738 cooperados e devolveu R$19,177 milhões de Capital Social aos associados que completaram mais de 65 anos de idade e 15 anos de filiação. E também registrou em 2022 receita global de R$28,1 bilhões e distribuiu 2 bilhões de reais como sobras aos cooperados. 

No Brasil, segundo o Anuário do Cooperativismo Brasileiro em 2020, existem mais de 15 milhões de cooperados.

O movimento financeiro de todas as cooperativas existentes equivale à nona potência financeira do mundo.

Na cooperativa, o cooperado, além de dono, com frequência, é prestador de serviço e também usuário. Não é fácil administrar uma cooperativa, pois cada uma reflete o tamanho da grandeza ou da pequenez da mentalidade de cada cooperado, ou seja, a cooperativa é a somatória de todas as virtudes ou de todos os vícios de cada cooperado. Cooperativa é uma missão e quando uma vai mal, outra a socorre. Geralmente, o insucesso de uma cooperativa está associado à má gestão por ausência de transparência e, quase sempre, corrupção administrativa e um Conselho Fiscal ineficaz, omisso, inoperante, sem compromisso moral. Por isso, no exercício do poder, a diretoria de uma cooperativa deve implantar condições preventivas que permitam a democrática transparência falar mais alto que os interesses pessoais, para que essa sempre persista nas futuras gestões.

O aumento do número de cooperativas depende de uma melhora cultural de um povo, região ou localidade, que “tenha interesse pela comunidade”, conforme determina o sétimo princípio do cooperativismo. Para ocorrer, deve haver programas a serem implantados já no Ensino Fundamental, com participação atuante dos poderes públicos municipais, estaduais e federais.

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