Nos primórdios da civilização, os seres humanos, paulatinamente, adquiriram e produziram conhecimentos que foram transmitidos oralmente, culminando no desenvolvimento da escrita.
Foram os sumérios, na antiga Mesopotâmia, que criaram a primeira forma escrita que era a cuneiforme, por volta de 3.200 a.C.
Porém, no decorrer dos séculos, diante do poder de dominação daqueles que detinham o conhecimento e o poder sobre os demais, a alfabetização era vedada aos escravizados, às mulheres e as classes mais baixas da sociedade.
Durante a idade média, por exemplo, o ensino do latim era restrito às elites econômicas e clericais, a fim de se manter o monopólio do conhecimento.
O grande escritor italiano Dante Alighieri foi um dos precursores em escrever nas denominadas “línguas vulgares”, ao produzir sua obra prima “A Comédia”, depois rebatizada de “Divina”.
Ou seja, se a conquista de um povo ocorria pelas armas, a manutenção do poder dependia da aquisição e da manutenção do conhecimento.
Mesmo com a quebra do monopólio da escrita em latim ou no grego clássico, há 200 ou 300 anos, não se tinha fácil acesso à informação.
Chegam a dizer que as informações contidas em um único exemplar de um grande jornal de hoje são mais vastas do que um servo na idade média adquiria durante toda a sua vida.
No entanto, nos dias de hoje, o problema é justamente o opositor, já que circula pela sociedade uma imensa quantidade de informação, que vai da pura e simples inverdade espalhada propositalmente (fake news) até as meramente irrelevantes.
É por isso que a aquisição de conhecimento, que se obtêm com a escolarização, com o acesso às diversas manifestações e expressões culturais e artísticas, é indispensável e não se confunde com o mero contato com informações e desinformações produzidas de maneira fragmentada.
Não é por acaso que uma das formas contemporâneas de se subjugar um povo é limitar seu poder de produção e de acesso às diversas formas de expressão cultural.
O líder nazista Joseph Goebbels, precursor da utilização do rádio como forma de espalhar desinformação, afirmava que: “A mentira várias vezes dita torna-se verdade”. E o seu colega, também nazista, Herman Goering, dizia: “Quando ouço a palavra cultura, pego o meu revólver”.
É muito comum que governantes vassalos de povos menos desenvolvidos procurem reduzir ou diminuir as criações culturais de seu próprio povo para mantê-los subservientes ao poder dominador.
Constata-se, pois, que o acesso à cultura produzida, e reproduzida, nas suas diversas formas é a única maneira de se construir um pensamento crítico apurado e se combater a submissão e as notícias falsas que grassam e se espalham por diversos meios em nossa sociedade atual.
Marcos Bilharinho
Advogado e escritor