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Da velha Remington aos poderosos algoritmos

Marco Túlio Oliveira Reis
Publicado em 23/05/2025 às 19:01
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Para aqueles que trilharam os primeiros caminhos na advocacia na década de 90, o cotidiano dos escritórios era bem diferente da dinâmica acelerada de hoje. A velha máquina de escrever Remington, com seu ritmo cadenciado e o som característico das múltiplas cópias nem sempre perfeitas, era essencial para a tramitação dos documentos. E a construção do conhecimento jurisprudencial era um trabalho manual e minucioso, envolvendo o recorte de julgados de diários oficiais e a organização em fichas de cartolina, verdadeiros arquivos de precedentes.

O século XXI, contudo, trouxe uma transformação radical. A tecnologia digital irrompeu no cenário jurídico com uma força avassaladora. A inteligência artificial (IA) desponta como uma ferramenta revolucionária, capaz de realizar, em segundos, análises de jurisprudência que levariam dias para serem compiladas manualmente a partir das antigas fichas. A automação de tarefas repetitivas libera os advogados para se dedicarem a atividades que exigem maior profundidade de análise e estratégia jurídica.

O acesso à informação, antes restrito a códigos físicos e assinaturas de periódicos, democratizou-se com a internet e as plataformas on-line. Essa facilidade impacta a relação com o cliente, que busca agilidade e clareza na comunicação. Novas tecnologias, como o blockchain para a segurança de documentos e a realidade virtual para a apresentação de provas, sinalizam um futuro ainda mais transformador para a prática jurídica.

Entretanto, essa evolução tecnológica também apresenta desafios. A necessidade de atualização constante dos profissionais, a proteção rigorosa dos dados e a reflexão ética sobre o uso da IA são questões cruciais. A crescente visibilidade de “coachs” e “influencers” jurídicos, em contraste com a profundidade do conhecimento e da experiência de juristas renomados do passado, como Edson Gonçalves Prata e Ronaldo Cunha Campos, levanta importantes debates sobre a qualidade e a seriedade do conhecimento jurídico compartilhado.

A advocacia do século XXI representa, portanto, uma jornada notável, desde o tempo da velha Remington e do papel carbono até a era dos poderosos algoritmos. É fundamental que, nessa transição, os pilares da ética, do rigor técnico e do profundo conhecimento do Direito permaneçam inabaláveis. A memória do trabalho dedicado com a Remington e a construção manual das coleções de jurisprudência serve como um lembrete da importância da solidez e da profundidade na busca pela justiça, garantindo que a tecnologia seja uma aliada da excelência jurídica, e não um substituto para ela.

 Marco Túlio Oliveira Reis

Advogado, especialista em Direito Público, presidente da Comissão de Direitos Humanos da 14ª Subseção da OAB/MG

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