É aquele derretimento, aquela sensação de euforia, o coração aquecido, um amor incontido quando ouvimos aqueles pinguinhos de gente nos chamar de vovó. Palavra mágica com poder de realizar todos os desejos daqueles que a pronunciam, a despeito dos protestos dos pais, segundo os quais os estamos mimando. Mas e daí? Quem consegue resistir a tanta doçura, aos bracinhos estendidos pedindo colo, mesmo quando já estão bem pesados e vão judiar das nossas colunas, aos beijos babados, ao cheirinho de inocência? Assim são os netos, presentes que nossos filhos nos dão de repente e transformam nossas vidas.
Dizem que os netos são filhos com açúcar, porque quando dão trabalho os entregamos aos pais. Não. Não é isso. Até porque os avós de hoje participam de tudo. Sofrem com as febres, as tosses, os engasgos, os tombos. Acompanham aos pediatras e até os seguram no colo na hora das vacinas. Acredito que o que os tornam tão especiais é o momento em que eles chegam em nossas vidas. Chegam, via de regra, quando já fizemos muito, vivemos muito, trabalhamos, criamos nossos filhos, fomos a festas, participamos ativamente de grupos e já estamos na fase de conseguir enxergar o mundo com mais cuidado, percebendo nosso declínio e totalmente conscientes da finitude da vida, embora ainda ativos e saudáveis.
Então, surge aquela explosão de alegria, choro e dependência para nos sacudir e nos convidar a começar de novo. Acompanhar os primeiros meses de dor de barriga, a agilidade para engatinhar, os primeiros passos vacilantes, o começar a falar. E tudo isso nos motiva, nos dá esperança, vontade de viver muito para acompanhar o crescimento dos filhos dos nossos filhos- renovação da vida, continuidade, bênção.
Ter netos é contar histórias, uma, duas, dez, vinte vezes antes de eles dormirem; é brincar de pique-esconde até não ter mais lugar para se esconder ou procurar; é andar atrás deles mesmo estando exaustos e repetir quantas vezes necessário for as mesmas brincadeiras; é levar e buscar na escola; é estar sempre disponível para quando precisarem de nós. É cansativo, de fato, mas é a melhor coisa do mundo. Ter netos é ser feliz.
Marcia Moreno Campos
