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Que tal um samba?

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 20/06/2025 às 18:15
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Ao que se sabe, Chico Buarque foi mais inclinado a Noel que a Pixinguinha, sem falar em Ismael Silva e Ataulfo Alves – estes mereciam especial admiração. Noel, a Rita levou e ele ficou, mais adiante, em outro acerto quase consensual, com o disco do Pixinguinha, esperando a devolução do Neruda que até hoje, meio século após, não sabemos se lhe foi devolvido.

“Mas fico com o disco do Pixinguinha sim, o resto é seu”. Ou seja, nas apurações finais de dois desenlaces, partiu Noel, permaneceu Pixinguinha. Trocando em miúdos, entre perdas e danos, foram-se os planos, seus pobres enganos, os seus vinte anos e o seu coração e, além de tudo, ficou mudo um violão. Que nada, mal sabia, o garoto de Sabiá, das voltas que o Mundo dá e de lá pra cá quanta história pra contar, quanta música para cantar.

 Chico completa, em junho, 81 anos no palco, na praça num banco de jardim, correndo no escuro, pichado no muro...debaixo da ponte, cantando, debaixo da terra, cantando, na boca do povo, cantando. “Gostaria de viver com saúde e vontade de criar coisas. Aos noventa e tantos anos e virando a noite por causa de uma música, de um livro”. Que assim seja, desafiando o tempo, afinando a viola e desfiando maravilhas.

Contestando, contrariando, encantando, como recentemente, dividindo o palco com Gil na turnê Tempo Rei do baiano para darem voz a Cálice de vinho tinto de sangue. “Hoje o inimigo veio, veio me espreitar. Armou tocaia lá na curva do rio. Trouxe um porrete, um porrete a “mode” me quebrar, mas eu não quebro não, porque sou macio, viu?!”.

Sua obra é fonte que não se esgota, como um olho d’água que brota à superfície, alarga-se em rio que transborda e alcança a imensidão do mar. Este é o velho Chico, intransponível, eterno, de unidade nacional. Permite-se navegável por um bom tempo. Indecifrável, mesmo de posse das melhores cartas náuticas. Um dia quem sabe os “sábios em vão tentarão decifrar o eco de antigas palavras. Fragmentos de cartas, poemas mentiras, retratos. Vestígios de estranha civilização”.

 Oitenta e um à la Chico não é pra qualquer um. Pra comemorar: Que tal um samba?

 Luiz Cláudio dos Reis Campos

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