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Os dias não serão assim

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 24/11/2022 às 18:18Atualizado em 15/12/2022 às 23:00
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Cássia Kiss é atriz até nas manifestações consideradas antidemocráticas pela própria empresa onde ela atua há anos. Talento não lhe falta. É uma personagem à procura de um autor, como na obra de Pirandello, que no caso eram seis personagens.

Cássia demonstra ter encontrado seu autor ao desempenhar o papel de compadecida por ele próprio, ou seja, ao encenar na vida real uma realidade paralela, digna de um teatro do absurdo capenga e de nonsense acima do que é corriqueiro nesse tipo de espetáculo. Mais do que absurdo, é um Teatro Bizarro. É triste constatar que Cássia é, neste momento, sua mais andrajosa personagem, que melhor seria se não tivesse saído da coxia.

Mas Cássia quis assim, revelar-se quase no fim. Quem a viu interpretar Vera Reis em “Os dias eram assim”, onde Vera era dona de uma livraria em Copacabana e mãe de dois filhos engajados, cada um à sua maneira, no início dos anos 70, exatamente pós-Copa do Mundo, lutando contra a ditadura, fica difícil deparar agora com a Cássia totalmente antagônica à Vera que ela tão bem interpretou. Não há como não se assustar, ficar atônito, incrédulo.

Não se trata aqui de patrulhamento, nem mesmo de uma espécie de macarthismo às avessas, mesmo porque é dado a ela, igualmente a todos, o direito de se expressar constitucionalmente, em que pese sua encenação conspirar e remeter a um tempo em que isso era impossível. É Cassia investida de sua personagem dantesca, lutando pelo direito de não ter direito. Cássia Kiss já beijou melhor. Lúcia Veríssimo nos mostrou. Beijo real, nada técnico nem artificial. O que beija e quem Cássia beija hoje? Beijo da mulher aranha? Cássia quer apagar aquela Cássia, pagando mico em plena praça.

Perdeu a graça. Um desperdício de talento a serviço de um enredo derrotado, que se aproxima de sua última exibição, prestes a sair de cena. Cássia continuará atuando com todos os seus indiscutíveis recursos artísticos, pena que por uma causa que parecia não lhe caber o figurino. Bom seria se ela nos surpreendesse e dissesse: pessoal, fui mal, pensei em lhes pregar uma troça, que papelão o meu. Voltando à realidade, é bom saber que, à revelia de Cássia e para alegria de Vera Reis, os dias não mais serão assim, como foram lá atrás e como eram assim agora.

Luiz Cláudio dos Reis Campos

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