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Mujica

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 13/05/2025 às 18:54
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Era muito jovem, secundarista, deparei-me com a palavra Tupamaro, que vim a saber tratava-se de uma organização que combatia a ditadura militar uruguaia entre 1973 e 1985. Fui logo buscar seu significado etimológico. Provém de Tupac Amaru II, líder peruano, que conduziu a chamada Grande Rebelião anticolonial na América, no século XVII. Tupac Amaru II ou José Gabriel Tupac Amaru nasceu e faleceu em Cusco, em 1738 e 1781, respectivamente. Tornou-se uma figura lendária, inspirando movimentos pela independência do Peru, a luta pelos direitos indígenas e os Tupamaros uruguaios

Quando soube da existência do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, algo em torno de 1975, jamais imaginaria que Mujica estava preso como militante tupamaro, cumprindo um longo período que duraria mais de doze anos. Aliás, nem sabia de sua existência.

“Uma noite de doze anos”, filme lançado em 2018, disponível na Netflix, retrata a prisão de Mujica e mais dois militantes tupamaros, presos e encarcerados sem poder se comunicar uns com os outros. Foram anos de completo silêncio, sobrevivendo à tortura, alheios à sociedade, sem a menor ideia de que sairiam vivos.

A música de Paul Simon e Garfunkel “The Sound of Silence” (O Som do Silêncio) torna-se um leitmotiv ao longo do filme, dando a dimensão sonora de um silêncio estrondoso que aflige por mais de uma década.

“Olá escuridão, minha velha amiga, eu vim falar com você novamente (...) dentro do som do silêncio, em sonhos inquietantes, eu andei sozinho (...), mas minhas palavras caíram como gotas de chuva silenciosas e ecoaram nos poços do silêncio”, trechos da música.

Desde os idos muros do cárcere até hoje, quando resolve se silenciar para a eternidade, é um homem além de seu tempo e referência mundial de um ser que é magistral porque minimalista em um constante caminhar socrático.

Mujica é uma palavra com sonoridade que daria nome a uma engrenagem de moinhos, sejam de vento ou de esperança, ou a alguma brincadeira de infância que não se brinca mais. Eis o homem que amará para sempre   Manuela, a cadela de três patas, seu fusca, sua chácara e Lúcia, sua companheira. “Eu não sou pobre, eu sou sóbrio, de bagagem leve. Vivo com apenas o suficiente para que as coisas não roubem minha liberdade”. Hasta siempre.

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