ARTICULISTAS

Pela longa estrada da vida

Karim Abud Mauad
Publicado em 31/03/2021 às 06:34Atualizado em 19/12/2022 às 04:14
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Mais que um título, a longa estrada da vida vai nos mostrando caminhos certos, posturas reflexivas e cuidados necessários com tudo e todos. Ando pensativo sobre o ato de viver e, claro, envelhecer. Sem querer, percebo-me calado ou evitando embates que outrora teriam rebates de bate pronto. Deixo de lado situações, falas, matérias, mensagens desconexas, falsas, carregadas de inverdades, apenas por entender que tudo passa e que, de fato, certas pessoas e situações são apenas o que são, dignas de dó. Se levasse para uma linha mais econômica, diria que me pauto hoje pelo benefício custo e nitidamente nesta ordem e nem mesmo pelo custo-benefício de antigamente. Várias vezes, vejo-me pensando se aquela fala ou aquele escrito merece ser ao menos ouvido ou lido. Soberba? Não. Apenas a paciência advinda com as primaveras, pois aquilo ou aqueles que escrevem, falam ou colocam certas situações estão com suas verdades arraigadas e não estão dispostos ao diálogo; e pior, muitos não se limitam a apenas discordar do que os outros pensam ou acreditam, eles, invariavelmente, não aceitam seu modo de pensar, ou pontos de vista contrários. Como sou humano, por diversas vezes também me percebo sem paciência com outrem; venho exercitando esta complacência e o entendimento do direito recíproco daqueles que externam posições com as quais não concordo ou comungo. Isto vale para assuntos de família, trabalho, entidades classistas e sociais, para o futebol e, claro e principalmente, para a política e a economia. Nas poucas vezes que me arrisquei a opinar, principalmente em grupos tendenciosos para a ou b, tentando argumentar que o alfabeto vai muito além, tendo c, d, e... até z, passando por x, y e w, a situação, invariavelmente, deixou o campo das ideias e acabou no campo pessoal. No mínimo recebe um rótulo. Uma lástima. Estamos abrindo mão da riqueza advinda do crescimento que a troca de ideias saudáveis, sem censura e agressividades, nos proporciona. Sinto falta da prosa franca.

Voltando à estrada da vida, repassei não apenas os últimos tempos, mas tive a oportunidade de voltar à infância, das brincadeiras de rua, às peladas de futebol, principalmente na chuva. Tempo bom, este não volta mais. Chegando pela adolescência e as festinhas na época do colégio, até lembrar da faculdade, em tempos muito distintos do que temos hoje, bons e inesquecíveis tempos. Vida profissional, casamento, filha, a alegria de ter minha mãe comigo, a boa lembrança do meu pai e tudo de melhor que isto pode nos ser propiciado pela vida. Lembrando destas épocas, várias vezes me peguei sorrindo sozinho. A memória seletiva grava, quase sempre, apenas os momentos de luz, melhor assim. Se viessem as lembranças das dificuldades, creio que enlouqueceríamos... Ainda assim, avaliando o todo, ao escrever este artigo, creio que a conta-corrente está no azul. Uma bênção agradecida a Deus diariamente.

Então é isto, o balanço de seis décadas foi legal, positivo, emocionante e aproveito para agradecer sem nominar cada um que me permitiu chegar até aqui. Valeu!

E ainda me possibilitou nesta quinzena não tratar apenas dos velhos problemas sempre atuais, da Covid-19 e das limitações na saúde pública, das dificuldades na Economia e dos desarranjos da política, em todos os entes federados. Sem alienar, num Brasil que já perdeu uma Uberaba em população, espero que continuemos ainda com o direito de livre expressão nestes próximos tempos. Que venham outras seis décadas. Espero estar pronto para vivê-las e continuar pela longa e boa estrada da vida. Esta história nunca poderá ser reparada, parafraseando Leandro Karnal.

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