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Safras em dobro

José Humberto Guimarães
Publicado em 19/12/2022 às 17:51Atualizado em 26/12/2022 às 22:58
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De algumas décadas para cá, mais precisamente a partir de 1970, a agricultura no país que era empírica e extrativista passou a ter substanciais modificações para melhor, impelida pela necessidade de expandir seu espaço horizontal em busca de maior produção de alimentos. Até então, explorada apenas em áreas de fertilidade natural, não conseguia mais atender a demanda do mercado interno.

Tanto pela redução dos trabalhadores que as executavam e que migravam para as cidades, quanto pelo aumento populacional que precisava de mais alimentos, a alternativa foi introduzir empreendimentos agrícolas em áreas até então consideradas inaptas para a produção de grãos que eram as terras de cerrado.

Estas novas áreas no cerrado atraíram agricultores sobretudo por sua excelente topografia plana, favorável à mecanização e muito mais amplas. Sua impropriedade residia em seus solos ácidos e pobres de minerais os quais exigiam adoção de tecnologias para se tornarem produtivas. Favorecidas para utilização de equipamentos motomecânicos em todo o ciclo das lavouras, do preparo da terra até à colheita da safras, restava buscar os meios adequados para a conveniente alimentação das plantas ali cultivadas. E é com aplicação de corretivos e fertilizantes químicos no solo com a frequência que as plantas exigem que se conseguiu a implantação neste local de culturas como a soja, o milho, o sorgo e o trigo.

Com estes fundamentais procedimentos, proprietários de áreas rurais que desconheciam as exigências físicas e minerais para tornar o solo produtivo, e costumavam propor contratos de parcerias ou arrendamento com prazos de duração insuficientes para a execução dos trabalhos de construção ou melhoramento da terra, passaram a entender que fariam bons negócios se se adaptassem à nova realidade agrícola.

Convencidos de que simples limpezas não tornariam suas glebas produtivas, deixaram de lado a pressa para retornar suas áreas ao pastoreio de bovinos e muitos se tornam também produtores de grãos através de arrendamentos.

Por outro lado, arrendatários e parceiros que executavam empreendimentos sem o necessário profissionalismo, assumindo com facilidade contratos de pequena duração, deixaram de fazê-lo e ambas as partes vêm se profissionalizando a cada dia.

A ocupação produtiva de parte das terras do Brasil Central está sendo realizada por agricultores profissionais originários principalmente dos estados do Sul do país e do interior paulista. O estabelecimento destes profissionais na região introduziu modificações profundas e benéficas na relação do uso da terra. E está promovendo uma verdadeira revolução agrícola.

Mais recentemente, a maior e mais expressiva inovação produtiva está sendo a realização de duas culturas de grãos em apenas um ano agrícola, plantando em outubro/novembro a soja precoce e na sucessão, em fevereiro o sorgo ou milho safrinha. Tudo isto no sequeiro, sem irrigação artificial.

Comprovação desta mudança salutar é o vertiginoso crescimento da área plantada e o aumento da produção agrícola. Estas mudanças têm contribuído em muito para a sustentação do consumo interno e para atender a demanda do mercado externo.

Graças à esta ocupação racional das terras de cerrado por profissionais agricultores é que o Brasil está galgando o pódio de terceiro pais maior produtor de alimentos no mundo.

José Humberto Guimarães

Consultor para Parcerias e Arrendamentos Rurais

Ex-Secretário Municipal de Agricultura de Uberaba

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