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Queijos certificados

José Humberto Guimarães
Publicado em 10/10/2022 às 20:00Atualizado em 16/12/2022 às 01:00
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Ainda está presente na memória da população local a celeuma provocada, há algum tempo, quando da implementação das normas de certificação dos produtos de origem animal comercializados na região. As regras estabeleciam procedimentos que deveriam ser adotados na produção e comercialização de leite, carne, ovos, mel e seus derivados, com vistas à disponibilização de alimentos saudáveis, portando certificados de origem e qualidade.

Houve rejeição às exigências sob a alegação de que as medidas, ali descritas, eram difíceis de serem adotadas em função do custo financeiro para colocá-las em prática. No caso dos derivados de leite, a construção de pequenas queijarias era o requisito mais refutado. Também questionava-se a necessidade de pasteurizar o leite e embalar seus derivados em invólucros plásticos.

Fazendo coro aos que se opunham às normas, uma parcela de consumidores, provavelmente condoídos pela lamúria dos produtores e comerciantes, achava dispensável o regulamento e criticavam-no.

Supunham quase todos que a tal regulamentação era uma manobra para arrecadar mais impostos. As partes que se contrapunham - pró em menor número, e contra, envolvendo maior contingente, acaloraram a discussão de tal modo que o assunto passou a ser cognominado de a “guerra do queijo”.

No transcorrer deste imbróglio, estabelecimentos comerciais de todos os portes e níveis deixaram de adquirir produtos regionais por falta da garantia de qualidade. Os alimentos similares, com certificados de origem, vinham de outras localidades para atendimento do consumo local, causando danosos prejuízos à nossa economia. Produtores da nossa região trabalhavam na clandestinidade e consequentemente vendiam produtos por preços vis; mal remunerados, muitos deixaram o negócio.

Mal enxergavam os segmentos da produção e da comercialização, que a adoção das práticas preconizadas iria qualificar suas fabricações, igualando-as à aquelas que convenientemente elaboradas já ostentavam certificação e eram comercializadas nas gôndolas dos supermercados locais.

Esta situação apresentava-se incondizente com o potencial da produção rural local, especialmente a leiteira que é o meio de subsistência de centenas de famílias, parte das quais poderia estar agregando valor à sua matéria prima, transformando-a em queijos, manteiga, requeijão, doces-de-leite, entre outros, suprindo o mercado local e vendendo para outras localidades. Este promissor mercado continua aberto escancaradamente com o crescente consumo de alimentos de qualidade comprovada no país e muitas opções se abrem para que pequenos produtores transformem suas matérias primas em produtos prontos para a mesa.

Através da Lei 10.606/2008 criamos na nossa gestão como Secretario de Agricultura Pecuária e Abastecimento o Serviço de Inspeção Municipal, o S.I.M. instituição que qualifica e habilita empreendedores para praticar legalmente seus trabalhos produtivos. Desta forma, artesãos atuantes na região, podem trabalhar a confecção de produtos de origem animal agregando valor à suas matérias primas.

Este é um negócio intimamente relacionado à boa fama desfrutada por Uberaba no país como localidade onde produtos das fazendas são saborosos e apreciados. Está aí, portanto, um serviço público que pode ser procurado pelas pessoas que buscam um ramo de trabalho e podem encontrar na manipulação de matérias primas como leite, carnes, ovos e mel, abundantes nesta região, a oportunidade de ocupação que tanto procuram para si e para a família. Afinal, o S.I.M. implantado por nós veio para ficar.

José Humberto Guimarães

Consultor para Parcerias e Arrendamentos Rurais

Ex-Secretário Municipal de Agricultura de Uberaba

 

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