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Leite, o alimento mais consumido no mundo

José Humberto Guimarães
Publicado em 21/11/2022 às 21:04Atualizado em 15/12/2022 às 23:07
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A pecuária leiteira é, no país, a atividade rural que ocupa grandes espaços territoriais e, também, a que gera enorme número de empregos, sendo executada principalmente por pequenos produtores da agricultura familiar. Ocupando o terceiro lugar no mundo, com a produção de 34 milhões de litros por ano, o setor está presente em 98 por cento dos municípios brasileiros e emprega mais de 4 milhões de pessoas. O leite é o alimento mais consumido no mundo, com 580 milhões de toneladas utilizadas no ano. Em que pese esta sua importância social e o fato de produzir um alimento essencial para a população, o setor amarga maus resultados financeiros há décadas e mantém-se à custa do empobrecimento dos seus executores. Impelidos pelos prejuízos, parte de seus integrantes migra para centros urbanos.

Conduzida sob condições cíclicas, a pecuária leiteira convive com horizontes dispendiosos nos quais em um período – o da estiagem, há escassez de pastos e o ambiente exige gastos financeiros para suplementação alimentar fornecida no cocho. Em outro, chuvoso, as áreas se revestem de gramíneas forrageiras verdes, mas insuficientes e pouco nutritivas para suprir as necessidades dos animais. Uma vaca de 450 quilos, para ser eficiente, precisa consumir pelo menos 60 quilos de capim verde por dia.

Diante deste cenário de precariedade, a suplementação alimentar dos bovinos é onerosa e o produtor de leite trabalha nas águas para custear os prejuízos da seca.

O numeroso elenco de trabalhadores que se dedica a essa importante atividade, afeiçoa-se a ela muito mais por herança familiar de amor à causa do que por rendimentos financeiros que remunerem a si e sua família pelo exaustivo trabalho. O compromisso destes trabalhadores com a produção do leite os mantém aprisionados aos serviços diários e ininterruptos que a atividade lhes impõe. Para estes trabalhadores não tem feriado, dia santo, nem mesmo Sexta-feira da Paixão que os libere da rotina de ordenhar e manejar vacas.

Entretanto, a pecuária leiteira dos pequenos produtores não propicia receita que viabiliza a oportunidade de investimentos na eficiência do negócio, pois a sua remuneração mal tem dado para a sustentação familiar.

Programas sociais do governo federal até há pouco tempo irrigavam o setor de produção de leite com recursos monetários destinados à aquisição deste alimento por um preço acima do praticado no mercado. Os programas funcionavam como garantia de compra e de preço mínimo.

Recente aumento no preço do leite para os consumidores causou indignação à população, que supondo serem os beneficiados os pecuaristas, demonstrou sua irritabilidade justamente para quem não tem qualquer poder de colocar preços no que produz, que são os trabalhadores do campo.

Apoios que contemplem os agropecuaristas de pequeno porte com meios que viabilizem financeiramente a produção leiteira devem ser aplicados na sua melhor remuneração pelo trabalho executado. Esta justa contribuição poderá fazer com que essa gente laboriosa se mantenha no campo, e não mude para as cidades, engrossando assim o rol dos milhares de dependentes de eventuais oportunidades de emprego e da assistência dos serviços sociais públicos.

José Humberto Guimarães

Consultor para Parcerias e Arrendamentos Rurais; ex-secretário municipal de Agricultura de Uberaba

 

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