JOSÉ HUMBERTO GUIMARÃES

Bem social

José Humberto Guimarães
Publicado em 29/12/2022 às 19:13Atualizado em 29/12/2022 às 22:39
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A terra é um bem social. Dela dependemos todos nós, seres humanos, para suprirmos nossas necessidades vitais. Portanto, queiramos ou não, somos intrinsecamente afetados ao que nela acontece de bom ou de ruim. Em nosso planeta são numerosas as pessoas que a possuem. São inúmeras as que a desejam; são incontáveis as que a tratam mal, e minoritários os que a fazem frutificar. Ela é aparentemente farta, mas torna-se pouca quando é motivo de ambições desmedidas e propósitos especulativos.

Dependentes de terras, as necessidades alimentares mundiais crescem tanto pelo aumento da população quanto pelas políticas sociais de diversos países em oferecer aos seus povos comida nutritiva, de maneira regular e permanente, no que se passou a designar como segurança alimentar. Por isto não basta ter terra, é necessário fazê-la produzir.

Registros importantes de órgãos ligados à FAO indicam que, na atualidade, a produção global de alimentos está em torno de dois e meio bilhões de toneladas. No entanto, em que pese este volumoso material alimentício, parte da população estimada em um bilhão de pessoas ainda passa fome.

Uma das causas que seguramente produz esta faminta situação é a má apropriação da terra. Através dos anos, os meios de se apoderar dela pouco vêm tendo a ver com seu princípio natural: o de produzir alimentos para promover a vida.

A China, por exemplo, com o seu extenso território amplamente ocupado com gente – um bilhão e quatrocentos milhões – e com todas as suas próprias terras já utilizadas por tudo que é ali possível produzir, para atender parte da sua política de segurança alimentar, tornou-se o maior importador de alimentos do mundo.

Diante disto, premida justamente pela falta de comida e buscando os meios adequados para no próprio território minimizar o problema, a China mudou um dos princípios básicos da sua política social de uso da terra, modificando-o de cessão graciosa para o de arrendamento contratado com o Estado. A contratação, válida inicialmente até 2053, tem como arrendador o Estado, mas permite a quem queira dispensar a área liberdade de transferir o arrendamento a quem pretenda cumpri-lo. Essa medida, que envolve 550 milhões de camponeses, pretende transformar uma agricultura de subsistência precária em uma atividade agrícola produtiva e até mesmo comercial.

No Brasil, anos atrás, um trabalho elaborado pela Fundação Getúlio Vargas, em seu Centro de Estudos Agrícolas, com participação da Bolsa de Arrendamento de Terras, construiu uma proposta alternativa à reforma agrária convencional, organizando um programa prático e funcional de arrendamento rural para pequenos produtores da agricultura familiar. O plano elaborado para o Governo Federal para execução no Ministério de Desenvolvimento Agrário propôs que glebas adquiridas com a finalidade de assentar trabalhadores rurais sem terras fossem cedidas para consórcios e condomínios constituídos objetivando a produção agropecuária.

O programa, ao instalar trabalhadores com vivência laboral em glebas agricultáveis, por meio de contratos de arrendamento de longo prazo, disponibilizaria aos rurícolas participantes recursos financeiros que lhes propiciariam os meios de executar empreendimentos produtivos. Com o resultado das safras obtidas, estes pequenos empreendedores deveriam remunerar ao arrendador pelo uso da terra com uma quantidade fixa anual de produtos. Assim fazendo, com esforço e dignidade poderiam prover o próprio sustento e contribuiriam para o necessário aumento da produção de alimentos no país. O programa está memorizado e pode ser reeditado. Como propor não ofende, continuamos aqui dispostos a fazê-lo.

José Humberto Guimarães

Consultor para parcerias e arrendamentos rurais; ex-secretário de Agricultura de Uberaba. [email protected]

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