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A soja revolucionou Uberaba

José Humberto Guimarães
Publicado em 25/03/2021 às 06:44Atualizado em 19/12/2022 às 04:24
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Um lugar de terra fraca! Assim, depreciativamente, se referiam ao município de Uberaba parte dos próprios fazendeiros locais e diversos outros que aqui aportavam, na década de 1970, em busca de áreas para expansão de seus empreendimentos. E realmente o era na sua maior extensão. Muitos agropecuaristas, principalmente os do vizinho Estado de São Paulo, por aqui passaram e não gostaram do que viram. Diante das terras que visualizaram aparentemente inaptas ao cultivo de grãos, preferiram ir em frente, embrenhando-se em lugares longínquos na busca de áreas de fertilidade natural.

Naquela época, a vastidão territorial que aqui se descortinava estava revestida de cerrado, campos naturais e de chapadões, ostentando arbustos cascudos e macega – capim grosso e fibroso, amarelecido pelo ambiente sem umidade e solo desnutrido.

Não tinha a cultura da soja. As lavouras, poucas, resumiam-se a arrozais, milharais e a alguns feijoais cultivados nos campos e nas margens dos riachos. Em sua maioria, em pequenas quantidades, sem fins comerciais. Supriam a população rural e o excedente da produção comercializado gerava renda adicional aos ganhos com a venda de leite e bezerros. Cultivadas por apenas dois anos, tinham como finalidade maior o revolvimento da terra para a formação de pastos. Usavam-se tratores, mas a maioria dos preparos era executada com tração animal. A pecuária bovina predominava extensivamente. Muita terra e pouco gado.

Tentativas houveram de introduzir culturas permanentes nesse ambiente. Reflorestamento de eucalipto para produção de madeira e lavouras de café, ambas contando com subsídios financeiros do governo federal, ocuparam grandes espaços. Não se sustentaram e foram gradativamente erradicadas. O destino parecia estar reservando para Uberaba a monocultura bovina.

Mas estes chapadões ofereciam novos e promissores horizontes. As terras fracas, ácidas, pobres de nutrientes, no entanto, não intimidaram empreendedores migrantes visionários atraídos e assessorados pela Bolsa de Arrendamento de Terras, os quais detectaram nas planícies a virtude principal para uma agricultura altamente mecanizada. Lançaram mão dos “remédios” que fortificariam o chã calcário e fertilizantes.

Estruturaram a terra e fizeram-na física e quimicamente capacitada a produzir soja, hoje o “ouro vegetal” do Brasil. Em 1984, no limiar da Bolsa de Arrendamento de Terras, eram apenas 8.700 hectares deste grão. Com três anos agrícolas foram pactuados 135 contratos, que abriram 25 mil novos hectares. Como cultura desbravadora e vitalizadora da terra, a soja proporcionou espaço apropriado para o milho, com o qual passou a fazer necessária rotação, procedimento benéfico para que ambas elevem suas produtividades. Com o sorgo granífero, forma dobradinha perfeita para se fazer as duas safras em um único ano agrícola. A reforma anual de 20 por cento da área de cana-de-açúcar é feita com a lavoura de soja. E sobre as terras vitalizadas pela soja ainda temos o trigo, o algodão a batata-inglesa, a cenoura, entre outras. Na atualidade, ocupa 90 mil hectares. O horizonte induz ao seu crescimento sobre áreas de pasto degradado. No ano de 2017, o município de Uberaba colheu um total de 217 mil hectares de todas suas lavouras (IBGE).

A terra fraca virou cultura. E quem passou por aqui e a desprezou agora lamenta a terra uberabense que subestimou.

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