ARTICULISTAS

Se ao menos eles soubessem votar!

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 30/03/2011 às 23:10Atualizado em 20/12/2022 às 01:00
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Nascida espontaneamente de um movimento popular, a Lei da Ficha Limpa impediria a candidatura daqueles com condenações na Justiça, mesmo quando pendentes de recursos. A ABRACCI (Articulação Brasileira contra a Corrupção e a Impunidade) e o MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), organizações nacionais que dão voz audível ao povo cansado de acompanhar impotentemente os vandalismos políticos, o abuso de poder econômico, a corrupção ativa e passiva, conseguiram, após luta renhida, a sanção da Lei que regularia candidaturas dos criminosos das urnas, que ano após ano se mantêm nos altos cargos de poder, apesar de todas as pendências legais.

Em ato louvável, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acatou a Ficha Limpa a partir deste mesmo ano eleitoral, tornando inelegíveis todos que tinham condenações na Justiça. Mas o Supremo Tribunal Federal (STF), em votação histórica, reverteu a decisão anterior do TSE, devolvendo o mandato a muitos que o haviam perdido com a Lei.

Muito já foi dito a esse respeito, no entanto, uma palavra constante em um desses comentários provocou-me um tremendo mal-estar: provavelmente a Lei da Ficha Limpa será acatada nas próximas eleições! Evidentemente, o que era certo, porque já sancionado passou para uma condição duvidosa de futuro! O ganho popular comemorado efusivamente teve vida curta e não chegou a nenhum resultado palpável e duradouro. Muita água rolou por debaixo desta ponte, certamente!

Se ao menos eles soubessem votar, não teríamos necessidade tão premente desta Lei da Ficha Limpa. A massa é impulsiva, mutável e irritável... Não pode tolerar qualquer demora entre seu desejo e a realização do que deseja... É também crédula e aberta a influências... Tem um sentimento de onipotência: para o indivíduo num grupo, a noção de impossibilidade desaparece. A massa não conhece nem a dúvida nem a incerteza. A massa está sujeita ao poder verdadeiramente mágico das palavras, que podem evocar as mais formidáveis tempestades na mente grupal, sendo também capazes de apaziguá-las... Por fim, as massas nunca ansiaram pela verdade; pelo contrário, exigem ilusões e não podem passar sem elas. A massa pode ser comparada com um indivíduo em estado onírico – sonhando. Desde muito os líderes, conhecedores dessas características dos agrupamentos sociais, têm usado do teatro dos gestos e da magia das palavras para esconder e não revelar, alcançando assim seus próprios ideais pessoais, e não os coletivos. Até quando vamos permitir esta hipnotize da massa?

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