ARTICULISTAS

"Eu me revolto, portanto nós somos" (Camus)

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 17/11/2020 às 18:17Atualizado em 19/12/2022 às 05:57
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Esta nova forma do cogito cartesiano que Camus elucida no romance “A Peste” onde a primazia do coletivo se impõe sobre o indivíduo demonstra que o absurdo é universal! Nós, em plena experiência de pandemia, concordamos com os ditos depois de vivenciá-los na própria pele. Nunca sentimos de forma tão clara e dolorosa esta imposição social sobre nós mesmos. Nunca nos pareceu de forma tão clara esta oposição entre o social e o individual; nada melhor do que uma crise coletiva para revelar ao indivíduo acuado os valores não individuais – políticos, éticos, metafísicos – que constituem sua preciosa individualidade.

Confundindo-se com o surto endêmico uma avaliação eleitoral acontece ao mesmo tempo. O que o resultado nos revelou? Uma busca apaixonada e imperativa pelo novo! A novidade como esperança! Só nos resta esperar por dias melhores! Ainda bem que não perdemos a esperança! Assim, pela primeira vez na história de Uberaba uma Mulher – em sua primeira disputa política - lidera a contagem de votos superando nomes conhecidos que militam, fazendo carreira no espaço público. A diferença causa admiraçã Elisa, 54.581 que representa 36,25% dos votos; Tony Carlos, 37.625 que representa 24,99% dos votos; Heli 28.740 que representa 19,09% dos votos, em total desacordo com as pesquisas de opinião pública divulgadas até o fim da campanha.

Depois da surpresa vem o desejo de racionalizar e compreender os significados. Sabemos da dor acometida ao povo pela morosidade, vaidade dos projetos e dos ideais, fracasso das instituições, desencanto e nostalgia, frutos da decepção vivida pelos cidadãos tanto em relação à política quanto em relação àqueles homens e instituições que a encarnam. Sabemos das insuperáveis contradições que opõem entre si as diferentes instituições humanas, a família e o conjunto da comunidade; sabemos também da desigualdade originária entre os homens, subtendida pelas pulsões agressivas capazes de degenerar nas imigrações dos povos na ilusão sem consistência da busca de filosofias ou teorias capazes de diminuir o sofrimento e a busca de movimentos redentores. O espaço político dado às mulheres nestas urnas significa oportunidade e pode se tornar um óbice.

A política é a arte de organizar e dirigir uma coletividade humana, ou seja, o conjunto de meios postos em obra para regulamentar as relações entre os indivíduos pertencentes a uma mesma comunidade juridicamente definidas, como designando as diferentes maneiras de governar os homens, ou ainda, de modo igualmente opcional e explicitamente aristotélico, como sendo o arsenal de práticas postas em obra com a finalidade de se alcançar a “felicidade de se viver juntos”. Será que estamos preparados para essa felicidade? 

Ilcea Borba Marquez

Psicóloga e psicanalista

e-mail – [email protected]

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