“Não estejais inquietos por coisa alguma: antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com ação de graças” (Bíblia Sagrada, Epístola de Paulo aos Filipenses, 4 – 6). Dia 9 de dezembro de 2024, recebemos a notícia de um AVC isquêmico severo do amado tio José Maria, aos 83 anos. A triste notícia me abateu. Conversando com Iolanda (prima), disse-me: – tio Zé estava tão feliz, fez tudo o que queria; pintou a casa para se mudar, contratou empregada, confessou, comprou âmbulas para as igrejas, encomendou missas. Parece até que estava adivinhando, estava tão bem, rezávamos juntos todos os dias, e disse-lhe o padre confessor que seus pecados estavam perdoados desde quando era criança.
Fiquei mal, pois não pude me despedir do tio Carlos, que faleceu em 31/12/24. E agora José? Preciso agradecer tudo que fez por todos nós, pelo exemplo, pela coragem, pela autenticidade, com certeza, não é o fim. O que fazer? O aniversário de cinco anos de Filipe (neto) se aproximando, o recesso forense, enfim, interroguei-me por dias, até que comecei a me acalmar, porque nada podia fazer, somente esperar.
Rapidamente, fomos e voltamos a Ibaté (SP), ao aniversário, tudo amoroso, muita alegria, muitos pais, muitas crianças, Rafael (Sacramento), ultrapassando os amigos, engravidou pela terceira vez; que notícia linda nessa época tão diferente, em que se usa muita tela e pouca afetividade; fiquei encantada.
Dia 16 de dezembro, última semana forense; dia 20 começava o recesso, então, trabalhamos sem perda de tempo e logo após viria o Natal. Tive a oportunidade de ir ver o tio Zé, dia 21, de carona, com Rogério, grande amigo da família. Cheguei a Pitangui e, no mesmo dia, parti com Virgínia (prima) para Divinópolis, Hospital Santa Mônica. Ao entrar no CTI, vendo tio Zé, a primeira coisa que veio à minha mente foi a imagem do papai, pois em junho de 2006 havia sofrido um AVC isquêmico, não tão grave, apenas 16 dias na UTI. Como eram parecidos, os cabelos, o corpo, lembrei-me de tudo e emudeci. A dor era tamanha, indescritível. Do lado direito, Tio Zé não mexia, inchado, ligado a vários aparelhos. Silenciei, fiquei por 10 minutos (eternidade), queria dizer que o amava, que mamãe o amava, que éramos gratos por sua presença em nossas vidas, enfim, mentalmente, disse-lhe: bênção, tio, eu o amo, obrigada por tudo, fique em paz.
No sábado de manhã, quando parti para Pitangui, era pequeno o resfriado, já com uso de máscara, e quando saí da UTI foi como se tivesse sido atropelada por um caminhão. Voltei para casa na segunda-feira, porque mamãe (vovó Alba) não compreende direito o que aconteceu com seu irmão. Na terça-feira, procuro um médico, sou diagnosticada com resfriado e medicada. No almoço de Natal, a casa estava cheia. Alaor Neto foi ver a vovó Alba e mostrou-lhe a tatuagem do avô feita em sua perna, belíssima. A anfitriã disse que não tinha visto, que não sabia; embora o esquecimento seja normal na velhice, no caso da avó é intenso.
No domingo (29), procuro a UPA e, sem paciência, não consigo esperar. Então, na segunda (30), vou ao Hospital e, após exames, sou diagnosticada com pneumonia. Eu tive essa doença há anos atrás, quando ainda tabagista, e por causa dela deixei de fumar. Contudo, os pulmões estão associados a emoções como dor, tristeza e ansiedade. Não me sentia em paz, tive insegurança, medo, estresse, raiva, ansiedade, repressão, culpa e, por fim, a tristeza do AVC do tio Zé.
Seja como for, para 2025 não serei obcecada, vou soltar as amarras da dor e abandonar o medo, vou ressignificar as emoções, afinal de contas, preciso aprender a ter solitude. Graças dou à minha vida e de todos vocês. Vamos ser felizes, só por hoje. “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Epístola de Paulo aos Filipenses, 4 – 7). Que o ano seja bom para todos nós.