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O mundo em perigo (II): a ameaça nuclear

Guido Bilharinho
Publicado em 29/11/2024 às 21:04
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Além de pandemias e outros males, mais letal do que elas e eles, muito mais letal, total e definitivamente destrutivo da vida no planeta constitui a permanente e onipresente ameaça nuclear.

Desde que os cientistas, movidos pelas classes dominantes e seus representantes legais dos países mais desenvolvidos (e mais ambiciosos), estabeleceram a “cizânia entre os átomos” conforme o poeta de Patos de Minas, Ricardo Marques, a terra perdeu sua incolumidade e possível infinitude, passando a correr perigo, real e factível.

Conforme o diplomata Sérgio Duarte, “uma das maiores autoridades mundiais no tema” (Folha de São Paulo, 06/03/2020), em depoimento ao citado jornal, “embora a quantidade total dessas armas [nucleares] tenha diminuído consideravelmente ao longo do tempo, os arsenais existentes são suficientes para inviabilizar completamente a civilização humana caso sejam utilizados, por desígnio ou acidente”.

Não obstante, por meio de acordos e convenções, o arsenal nuclear tenha diminuído, “o mundo hoje corre mais riscos de ver um conflito atômico do que há 50 anos [....] não há dúvida de que nos tempos de hoje o mundo é mais perigoso do que em qualquer época desde o início da era nuclear”, afirma ainda o citado especialista.

Com o término, por volta de 1990, da Guerra Fria entre EUA x URSS, pensava-se que a latente ameaça nuclear teria passado e o mundo caminharia para distensão, destruição de arsenais e mísseis e, finalmente, desarmamento.

Isso, no entanto, não ocorreu, demonstrando que a situação de animosidade e beligerância entre nações não foi nem é decorrência da antinomia entre regimes econômicos (capitalismo x soi-disant socialismo), mas é endógena, de dentro do próprio capitalismo, o que a torna permanente enquanto esse regime subsistir e predominar. E quem irá pôr o guizo no pescoço do gato? E que guizo?

A rivalidade entre os EUA e a Rússia capitalista continua acesa, não apenas retirando-se os EUA de acordo de contenção nuclear com ela celebrado, como, ainda, acelerando a produção de artefatos nucleares e aperfeiçoando cada vez mais a eficácia e o alcance de mísseis transportadores.

A efetiva ocorrência dessa contradição intercapitalista tomou vulto e ganhou ênfase com a atual “guerra” comercial abertamente declarada e implementada pelos governos dos EUA contra a China, “guerra” que nada tem de ideológica ou de divergente cunho organizacional, já que na China prevalece regime misto de planejamento centralizado e iniciativa privada, inclusive com diversas empresas ianques e até a Tesla de Elon Musk.

A concorrência, princípio básico e até certo ponto salutar do capitalismo, possui efeitos colaterais (ou até centrais) perniciosos quando exacerbados, como vem sendo o caso por parte dos declinantes EUA, que não querem perder sua hegemonia mundial, econômica e militar.

Que o caso não é nem nunca foi ideológico nem de princípios (morais, religiosos e democráticos), basta lembrar a sincera afirmação de John Foster Dulles, antigo ministro das Relações Exteriores dos EUA (lá denominadas Departamento de Estado), de que “os EUA não têm amigos, têm interesses”.

As assertivas de “mundo livre”, “democracia”, “valores cristãos” e outras não passam de meros chavões pré-textuais para encobrir e disfarçar as verdadeiras razões de campanhas publicitárias e intervenções militares, que visam defender interesses econômicos e/ou estratégicos concretos, dos quais seus detentores não abrem mão em hipótese alguma. Aí é que mora o perigo!

Tais interesses é que dominam, direcionam e encaminham o mundo para ultrapassar os extremos limites da autodestruição planetária, ponto a que se está sempre muito próximo, como o citado embaixador Sérgio Duarte adverte:

“Todos os nove [nove já!] possuidores de armas nucleares, sem exceção, vêm aumentando seus arsenais ou acrescentando novas tecnologias destruidoras, como mísseis várias vezes mais velozes que o som, uso de técnicas cibernéticas, lasers, inteligência artificial e outras inovações, numa verdadeira proliferação tecnológica.”

*

Diante desse quadro macabro e dantesco, o que fazer?

Essa a questão, já que a necessidade de se fazer alguma coisa se impõe, sob pena de omissão suicida.

Mesmo assim, como se nota no mundo todo, ninguém se move ou, se se move, constitui apenas (e por enquanto?) movimentos isolados, desconectados de rede internacional de organizações pacifistas e desarmamentistas, sem a indispensável divulgação e o apoio da grande mídia condicionada pelos fortes grupos econômicos que a sustentam.

Apesar disso, e até por isso, é necessário que se faça alguma coisa para tentar interferir e obstaculizar o desatino e a loucura de inúmeros detentores do poder econômico e de seus representantes na direção (executivos, legislativos e judiciários) das nações, cada vez mais armadas.

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