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A Coluna da Morte, João Cabanas e a emancipação do Triângulo

Guido Bilharinho
Publicado em 15/04/2025 às 19:23
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Em 5 de julho de 1924, foi deflagrada em São Paulo/SP, por unidades do Exército e da Força Pública Paulista, revolta armada visando destituir Artur Bernardes da Presidência da República e implementar uma série de reformas.

No contexto dessa conflagração, que durou vinte e três dias de combates e posterior perseguição dos revoltosos em fuga pelo interior do Estado de São Paulo, atuou unidade militar comandada por João Cabanas, oficial da Força Pública estadual.

As peculiares atividades por ela desenvolvidas no decorrer da referida retirada dos revoltosos derrotados consistiram, em locomotiva ferroviária na qual no último vagão vinha escrito a giz “Coluna da Morte”, em retardar e dificultar o mais possível as forças legalistas que vinham em sua perseguição, mediante “explodir e destruir pontes, pontilhões, retirar trilhos e criar todas as dificuldades possíveis à perseguição pelas tropas legalistas, retardando-as” (José de Sousa Martins, “A Coluna da Morte e Sua Circunstância”, prefácio ao livro A Coluna da Morte, de João Cabanas, São Paulo/SP, editora Unesp, 2014, p. XV).

João Cabanas (1895-1974), que se tornou figura lendária, escreveu o livro em 1926, quando no exílio no Paraguai, sendo lançado em 1928 e atingindo várias edições, da quais a sexta foi a última por ele aprovada.

Nesse livro, às págs. 81/82 da edição da Unesp, baseada na aludida sexta edição, se informa:

“Em Moji Mirim fui procurado por uma comissão que aí se aguardava vinda do Triângulo Mineiro. Esta comissão era composta de quatro cavalheiros  de destaque naquela região do Estado de Minas, cujos nomes ainda não é prudente declinar, e vinha em nome de seus correligionários políticos propor a minha ida a Uberaba, onde receberia um reforço de 2 mil a 4 mil homens, bem armados e municiados, 500 contos em dinheiro, além do pagamento de todas as despesas da tropa, sob a condição de proclamar a independência do Triângulo e marchar depois sobre Belo Horizonte, a fim de depor o governo do Estado.”

Esse episódio e suas implicações militares permaneceram desconhecidos para a historiografia oficial conquanto publicizado por Cabanas desde a primeira edição de seu livro, em 1928.

“Aceitei a proposta que me faziam porque via nisso uma fonte inesgotável de extraordinários recursos para a revolução e preparei-me para seguir rumo a Uberaba, com a intenção de tomar essa cidade, bem assim Conquista, Uberabinha e Araguari. Marcharia depois, uma vez de posse dos elementos prometidos, pela capital mineira e daí, no caso de ser bem-sucedido, tomaria posição no ponto mais conveniente da estrada de ferro Central do Brasil nas proximidades de Barra do Piraí, de modo a interceptar as comunicações e remessa de tropas para São Paulo e Minas. Este era o meu plano. Dei as ordens necessárias para que de madrugada a tropa estivesse embarcada. Executado o embarque e a partida, já a duas horas de viagem, recebi um telegrama urgente no qual se me ordenava voltar imediatamente a Moji Mirim.”

À evidência que para a história do movimento emancipacionista do Triângulo a circunstância de se organizar e atuar a Comissão referida por Cabanas é da máxima significação por demonstrar o permanente inconformismo triangulino com sua unilateral anexação a Minas Gerais bem como o grau atingido à época por essa insatisfação, a ponto de ter e poder disponibilizar alta soma em dinheiro e, principalmente, homens armados para a consecução do propósito emancipacionista.

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