Sou criado no interior, onde as pessoas sempre se cumprimentam, olham nos olhos, ao menos meneiam a cabeça.
Eu sei que os tempos mudaram, que as cidades cresceram, etc, etc, mas alguns valores, como simpatia e cortesia, poderiam ter ficado.
Se você precisar conversar com alguém na rua, pedir uma informação ou até mesmo uma ajuda, certamente encontrará dificuldades. Não porque as pessoas não são solidárias, e sim porque muitas andam de cabeça baixa e com fones nos ouvidos. Esse hábito de ouvir músicas ou sabe-se lá o quê normalmente transporta a pessoa para longe; o corpo está aqui, mas o pensamento...
Lupicínio Rodrigues, em sua celebre obra “Felicidade”, disse: (...) “O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar”.
Aliás, espero que muitos daqueles que se escondem por trás dos fones, mesmo que estejam em Nárnia ou no mundo da lua, estejam, de alguma sorte, pensando. Melhor do que estarem com a cabeça oca, com a mente vazia, sendo oficina para sei lá quem.
Eu sei que muitas vezes você precisa dos fones ou deseja ouvir uma música, ou relaxar. Mas entre usar com bom senso e parcimônia e ser habituado a sair da cama e colocar os fones, a estar com eles em todo o trajeto e usar até em festas, aí já é demais! Usando os fones de ouvido, certamente você deixará de participar, de conversar e de se interagir. E, também, de trabalhar ou estudar com foco e dedicação, de sentir o ambiente e, principalmente, de poder olhar nos olhos de outra pessoa, de conversar e de se relacionar.
Há quem defenda que o uso constante dos fones faz mal para a saúde, especialmente para a audição, que tira o foco e ainda o transporta para o mundo da lua.
Sendo ou não verdade, uma coisa é fato: usar fones de ouvido com muita frequência e não raro com volume acima do indicado distancia a pessoa da realidade e a afasta de relacionamentos; por fim, assina um atestado de grosseria.