O problema talvez nem seja falhar. Falhar, eu sei bem, é parte do processo — a anatomia inevitável da tentativa. Pior do que o erro em si é o silêncio que nasce daquilo que nem tentamos dizer. Pior é o abandono das ideias antes mesmo delas respirarem fora do papel, é o afeto guardado em segredo, trancado em caixas por medo do que pode acontecer. Não é só um erro. É um erro que sequer chegou a ser.
Vivemos numa época que transforma a vida numa vitrine editada, em que fracassos viram rascunhos excluídos antes que alguém veja. Tudo precisa estar certo desde o início, tudo precisa convencer imediatamente. Não há tempo para versões intermediárias, não há tolerância ao que está sendo. Mas como é possível aprender sem erro? Como criar se queremos o ponto final antes do primeiro parágrafo? Como amar, se buscamos garantias em cada gesto, em cada olhar?
Talvez o único caminho possível seja aprender a falhar sem medo, aceitando a fragilidade que mora na tentativa. Enxergar o erro não como marca de imperfeição, mas como um lembrete delicado da nossa humanidade. Tentar não como quem busca performance, mas como quem respira — com presença, com coragem, com abertura. Como quem aceita ser imperfeito sem se desculpar por isso.
Afinal, falhar é verbo transitivo: pede algo depois de si — um projeto, um sonho, um afeto. Mas viver é verbo intransitivo: não precisa de complemento, nem de aprovação, nem de resultado. Basta por si mesmo.
Então, que possamos falhar melhor. Hoje, amanhã, enquanto houver desejo e vida.