Tocha estrelar - Baseado em Não Se Brinca

Juro que a minha intenção era a de escrever sobre notícias em separado. Tanto que criei dois arquivos, um com o título de “Estrela Boa de Brincar” e outro com “O Triste Homem Tocha”. Mas não tem como desvincular a do homem que ateou fogo em si próprio, da morte do criador dos brinquedos da marca Estrela.

Infelizmente, algo que causa tanta alegria com um ato de tanta tristeza é sim interligado por sonhos realizados e não realizados. Se bem que de um se soube a causa mortis, mas não se revelou o nome. O outro se sabe o nome, mas não se revelou a causa mortis. Eis uma sutil diferença quase imperceptível.

Já de criança ouvimos que não se deve brincar com fogo. Porém, conforme crescemos, parece que esse conselho vai se perdendo com o tempo, seja pelas brincadeiras juninas de pular fogueira, soltar fogos segurando a bomba chilena na ponta dos dedos ou nos balões feitos com papel celofane. Nada nos mete mais medo.

Contudo, brincar faz parte do imaginário infantil e adulto. Prova inconteste que talvez deva ter levado o senhor Mario Adler a fundar a fábrica de brinquedos da marca Estrela, assim como à criação do Dia da Criança. 

Com isso, quem nunca ouviu a frase exclamativa “É da Estrela”. No que já remetia a brinquedo e do bom. Vivi isso durante a minha infância. Até mesmo se ouvia como jargão: “Só quer ser da Estrela”, quando alguém queria aparentar ser o melhor no que fazia. 

Se, como disse Mêncio, “o grande homem é aquele que não perde o coração de criança”, Mister Mario Adler cumpriu muito bem o seu papel no mundo. Descanse em paz desse parque de diversões, desça desse brinquedo que se chama roda-gigante.

Doutro lado da cidade, noutro lado da história de vidas, na mesma data, um senhor ateou fogo no próprio corpo, causando desespero aos transeuntes, que se apressaram em apagar logo as chamas. E, como num filme de terror, aquele homem não caiu, permaneceu de pé, como um espantalho preso numa estaca. Quanta tristeza queimava no interior do seu peito que o fez se queimar por fora! 

Passados dois dias do ocorrido – só agora foi noticiada a sua morte –, no mesmo dia 30, nenhuma pesquisa realizada divulgava sequer o seu estado de saúde. Motivo aparente não havia para todo esse mistério, visto não ser nenhum famoso. A não ser que seja pelo fato de ser só mais um idoso e, ainda por cima, morador de rua, como foi aventado. Ou seja, além de homem tocha, também homem invisível. 

Ao fundo do vídeo é possível ouvir a revolta de alguém, mandando-o procurar Deus, mas, talvez, mesmo de maneira errada, essa foi a única forma de aquele homem ter querido estar mais próximo de Deus, o que talvez não tenha conseguido durante seus setenta anos de idade, numa vida que em nada lhe era divertida.