ARTICULISTAS

Jogo de cintura

Iná e Ani
Publicado em 06/04/2024 às 17:37
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Parece ser uma característica intrínseca ao ser humano estar sempre tentando controlar tudo. Necessário se torna reconhecer que nem tudo está sob nosso controle. Manipular pessoas e exercer pressão é puro devaneio e, às vezes, essa conduta autoritária pode se voltar contra nós e se tornar um fardo. Ao abraçarmos o incontrolável, reconhecemos a ilusão de que não podemos governar todos os eventos de nossa vida. Isso não significa resignação passiva, mas simplesmente que não podemos ser moldados de acordo com a nossa vontade. Quando essas pressões se manifestam no âmbito familiar, lidando com filhos adolescentes, mães doentes, esposo ou sozinhas no trabalho, com horários, é um fardo esmagador. Essa sensação de pressão, numa expectativa de que conseguimos controlar, é errônea. Torna-se importante reconhecer a necessidade de ajuda quando estamos sobrecarregados.

Quando abracei o cargo de diretora de uma Escola Estadual, senti a responsabilidade nos meus ombros. Percebi imediatamente a importância de buscar aliados e colaboradores, uma vez que trabalhar em equipe e envolver outros membros é essencial para o sucesso de qualquer empreendimento. Numa instituição, quer seja de ensino, pública, saúde, meio ambiente ou política, se não estiver ao lado de bons aliados, é difícil prosperar e alcançar seus objetivos.

Com a anuência da superintendente de Ensino, Maria Abadia Barsan, tomei medidas proativas para iniciar a gestão com a percepção inicial de que se tratava de um educandário em que os alunos eram adolescentes rebeldes. Além disso, o bairro era, na época, considerado “barra pesada” e a escola funcionava também no horário noturno. Minha “Estrela Maior” foi imediatamente transferida, pela real necessidade de se ter ali uma orientadora educacional, amorosa, compromissada, criativa.

Um fato interessante ocorreu por ser um bairro desconhecido e não saberem de nossa gemelaridade. Surgiu um boato de que a nova diretora entrava às sete horas e só ia embora às vinte e duas horas. Nossa presença causou apreensão aos jovens com sérios problemas de agressividade e revolta. Foi uma experiência desafiadora e só acreditaram que eram duas ao nos ver juntas e nos conhecer melhor.

Gradativamente, compreenderam que estávamos lá para abrir as portas da escola para a comunidade. Conseguimos, sem aumentar pressão, controle autoritário ou manipulação, que fossem nossos aliados. Diálogos, confraternizações entre os docentes, reuniões de classe com alunos em suas respectivas salas, abertura da quadra esportiva (vivia fechada), bailes, concursos de redações, convocando os jovens estudantes para apresentações em todos os segmentos, danças de rua, capoeira, hip hop e tudo mais. Acabaram por ser os xerifes do educandário, fiscalizando e dando apoio na preservação da escola, ajudando os docentes em “rifas”, enfim, a paz surgiu ante pedradas e furações de pneus. Bendito Santo Expedito!                                   

A verdadeira sabedoria reside em encontrar equilíbrio entre o que podemos influenciar e o que devemos aceitar, e é nesse equilíbrio que encontramos o crescimento pessoal e nossos limites, sem gerar ansiedade, estresse, aprendendo a dançar com as incertezas da vida, em vez de lutar contra elas. A metáfora do jogo de cintura representa os princípios essenciais para lidar com adversidades, mesmo com as pressões do dia a dia.

Você já aprendeu a dançar driblando os obstáculos da vida?!...

Dois beijos...

 Iná e Ani

Ocupa a cadeira nº 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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