Atualmente poucos se arriscam a ir à casa de amigos e parentes sem antes dar um telefonema. Os tempos mudaram no que diz respeito às visitas inesperadas. Antigamente, aparecer de surpresa era frequentemente visto como um gesto de carinho e proximidade; no entanto, chegar sem avisar, especialmente com uma companhia, pode gerar constrangimento, pois os anfitriões ou amigas querem descanso em suas casas. Certamente, a mudança de hábitos de visita reflete o ritmo acelerado da vida moderna. As pessoas estão cada vez mais ocupadas com trabalho, estudos e afazeres pessoais, tornando seus momentos de descanso quase sagrados.
Com auxílio da tecnologia, é fácil combinar previamente uma visita por meio de mensagem ou telefone, mas isso não significa que o carinho e a amizade entre familiares e amigos tenham desaparecido. Combinar com amigas em uma lanchonete, barzinho ou um lugar aconchegante é uma excelente alternativa. Ninguém precisa preocupar-se com arrumar a casa ou preparar algo para receber.
Somos, porém, do tempo em que as pessoas ainda faziam visitas. Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. Lembranças que, ao chegar à casa de parentes e amigos, todos bem vestidos, eu, Ani, Eurípedes e mamãe éramos sempre recebidos com muita alegria e com um grito: “As gêmeas chegaram. São duas para brincarmos”.
Muitos de nós se lembram dessa época. Parece que a vida corria mais lenta e todos tinham tempo para jogar conversa fora. Casas e portões abertos para receber amigas e crianças. Casas singelas e acolhedoras. A nossa também era assim. Retratos nas paredes, imagens de santos nas cantoneiras, flores na mesinha de centro, bibelôs na cristaleira de vidro completavam o cenário de afeto. Era costume, se tivesse outra criança, irmos brincar nos passeios. Depois de algumas horas, ouvíamos a voz lá da cozinha: “Gente, vem para dentro, o café está na mesa”. O café acompanhado por um bolo e outros sequilhos. Que gostosura!
Para que televisão? Para que rua? Para que drogas? Esses encontros eram até a adolescência. O respeito e o calor humano eram detalhes simples, mas sentíamos a grandiosidade de estar em comunhão. Era um tempo em que o simples ato de sentar no sofá e conversar com todos era uma festa, um verdadeiro ritual de alegria e conexão. Alguns levavam as cadeiras para fora e a conversa corria solta, juntava todo mundo sentado até nos passeios e as piadas pipocavam, as gargalhadas também, até as nuvens escurecerem. Quando íamos embora, ficavam na porta até que virássemos a esquina, e ainda nos acenávamos.
Os jovens de agora estão sendo formados em solidão, suas convivências foram substituídas por telas e programações. Na casa dos avós, parentes, amigos não nos ouvem mais, preferem os celulares conversando com eles, e para nós as respostas são murmúrios, sem tirarem os olhos dos smartphones. Essa troca de assuntos, dos nossos tempos, ficou para trás.
Nossa convivência diária com televisão, documentários, vídeos, e-mails, cada um na sua neste século XXI. Isso soa como algo melancólico. Casas trancadas… Para que abrir se nossos mestres estão em casa?! Esse isolamento social substituiu as interações, corpo a corpo, com os amigos.
Temos ainda amigas que se reúnem em suas casas. Nesse dia, relembramos a chama do olho no olho, o valor de uma conversa face a face, o calor de uma risada compartilhada, o aconchego de uma casa cheia de vozes e histórias, a mesa posta com café e bolo, porque, no fundo, a VIDA sempre esteve ali: no compartilhar, no pertencer e no amor.
Dois beijos...