Não sou, mas conheço bem esse tipo de amigas, talvez até uma parte minha se reconheça nisso. Aquela mania inquieta de fazer o “check-up emocional” antes mesmo do café, como se nosso corpo sempre escondesse uma nova dor, uma surpresa incômoda. É quase um ritual: a língua vasculha o céu da boca como quem busca um presságio numa afta; os dedos tateiam a pele atrás de uma espinha; a voz parece que está rouca, como quem procura um motivo para se preocupar.
No fundo, não é só a dor física que está em jogo. É como se, ao encontrar alguma falha, por menor que seja, a gente reafirmasse a própria existência: “Ainda estou aqui, sentindo”. Um jeito meio esquisito de controlar o caos do mundo. Melhor uma dor conhecida do que o vazio silencioso do nada errado.
E se, só por hoje, eu tomasse o café primeiro? A dor, se for verdadeira, espera. E se for inventada, quem sabe ela se dissolva ao amanhecer. A gente fica tocando numa verdade silenciosa, quase intuitiva, que poucos encaram de frente: será que todos nós procuramos alguma dor? Não por masoquismo consciente, mas por hábito, por desassossego, por falta de paz. E, muitas vezes, somos como essas pessoas, sem nem perceber.
Em diversas ocasiões, uma dorzinha aparece e, em vez de deixarmos que se vá, cutucamos, mexemos, testamos — só para ver se ainda está lá. A unha encravada, a afta, a pontada na lombar ou aquela dor mais funda, que nem tem lugar no corpo — mas que a gente cutuca com lembranças, com pensamentos que deveriam estar enterrados.
Uma dor física, muitas vezes, é um recado do que não foi resolvido lá dentro.
Pior ainda: quanto mais a gente cutuca, mais a dor aprende a crescer. Como se dissesse: “Ah, você quer me sentir? Então, toma”. E, assim, pequenas dores viram grandes companhias. Dores emocionais viram sintomas crônicos. A ansiedade vira falta de ar. A tristeza se transforma em peso nos ombros.
Quando será que conseguiremos aceitar que nem toda dor precisa ser ouvida no volume máximo?! Que a cura, às vezes, começa quando deixamos de provocar e começamos a cuidar — com silêncio, com tempo, com leveza?!
Nem sempre é fácil, mas é possível! A dor, se respeitada, também pode ir embora. Chega de sofrer por antecipação. Sim, chega, chega mesmo!...
Eu e Ani nunca deixávamos a dor fazer morada. Unidas pelo amor ao próximo e a nós mesmas, anestesiávamos os problemas, colocávamos a cabeça em nuvens e, assim, a dor não nos alcançava.
Vamos aproveitar a alegria do dia, pensar em distrações, trabalhos, aventuras, ou simplesmente ir à igreja, encontrar amigas de orações, quermesses, promover encontros, fazer caminhada, ler livros... Dessa forma, sem nem perceber, aquela dor insistente some. Onde há propósito, não cabe angústia. Onde há luz, a sombra se esconde.
O mundo precisa exatamente disto: de gente que decide, todos os dias, escolher a alegria em vez do sofrimento.
Vamos transformar nossa vida em uma Terapia Espiritual e Cultural — e deixar para trás as dores que tentam nos vitimizar.
Dois beijos...
Anina
gemeasanina@hotmail.com
Ocupa a cadeira nº 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro