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Calou-se o Marquês do Cassu

Ani e Iná
Publicado em 17/06/2021 às 19:28Atualizado em 18/12/2022 às 14:44
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Que triste tarde!

Tomei conhecimento de sua partida, meu amigo irmão.

A nossa cidade que vc tanto amou perde hoje o seu defensor.

Quis o cruel destino (maktub) que fosse vc acometido desse mal terrível, junto com Marilia, a filha que sempre esteve ao seu lado.

Internados os dois, ela foi embora antes, para enfeitar a sua chegada, ornamentando com abraços enternecidos o seu novo lar.

Felizmente, quis a sorte benfazeja que ela foi sem você saber, para a surpresa de abraçá-lo na chegada.

Você foi a voz de Uberaba, com seus arroubos de amor e a sua lembrança viva em seus escritos, onde se lia como se fosse ao vivo e a cores, personagens que por essas ruas perambulavam, hoje e antigamente, ressuscitados por sua memória prodigiosa.

Lembro-me do seu início, na antiga igrejinha de São Benedito, no serviço de alto-falantes na praça da velha rodoviária.

Era você e o Vicente de Paula Oliveira (o maior declamador de Catulo da Paixão Cearense), sendo que o Vicente já se foi de há muito e estará também presente na sua chegada.

As quermesses com seus correios elegantes faziam a alegria do nosso povo.

Lembro-me de quando você leu o correio elegante de um poeta desconhecido, que, respondendo a uma gentil e linda senhorita, lascou: “eu quisera ser uma lágrima para em seus olhos nascer, por sua face correr, e em sua boca morrer”.

Você falou que o poeta casou e não mais fez versos!

Daí você foi galgando os degraus da trajetória iluminada que o traria até hoje, passando por rádio, televisão e jornais. 

Quando quiseram, por motivos outros, mudar a data de nascimento de sua terra amada, o mundo veio abaixo.

Veio à tona uma sua faceta por nós desconhecida, a de um denodado e valente defensor do berço.

O brilhante lutador fez de sua pena espada e partiu para o confronto.

Essa peleja açodada pela peça teatral de Luigi Pirandello “ASSIM E SE LHE PARECE” iria chegar a lugar nenhum, mas ficou no limbo para ser interpretada de acordo com a ideologia ou conveniência de cada um.

Você, Gonzaga, foi um grande amigo e ser amigo é muito difícil, e a gente, quando encontra um, tem que dar valor, e, quando estamos juntos, jamais dar motivos para sair da roda e ir embora, e você se foi.

Mas esse adeus, provocado por essa maldita síndrome, não irá impedir um reencontro no andar de cima.

A nossa cumplicidade em somar tristezas e dividir alegrias com o nosso Botafogo expulsava os resquícios de quaisquer malsinados pensamentos de que um dia haveria essa dolorosa despedida.

A dor do amigo que perde um companheiro não é pouca.

As tardes no Filó para espancar a solidão e nunca acreditar que um dia haveria essa triste separação.

Disse-lhe eu, uma vez, que os personagens da terra que não eram ficção, e sim protagonistas viventes, como Dora Doida, Maria Boneca, Maria Carrapata, Coronel Delcides e Alicate, que se dizia filho de Heleno de Freitas do nosso Botafogo, poderiam ser figuras de um romance regional que nos levaria a viver de novo emoções passadas e vc à glória nacional na literatura, já que aqui vc é exponencial.

Você lutou para vencer a Covid, mas vencido fez uma cidade inteira chorar, e foi sem se despedir, mas deixou pra todos o testemunho de seu grande amor por UBERABA!

A Vania, com certeza, devia sentir-se enciumada por tanto amor à nossa Uberaba, mas ela tinha o coração nas alturas e jamais deixaria de incentivar tão extremada paixão pela nossa terra.

Terra que hoje se sentirá agradecida por servir de agasalho pro seu corpo frio.

O seu corpo, Gonzaga, hoje volta ao ventre amado, feliz pelo fruto tão produtivo em versos e prosas que você nos legou.

Nosso rincão amado jamais será o mesmo sem a presença pujante de sua pena-espada valente a nos defender.

Somos todos órfãos de sua presença física, mas temos a certeza inexorável de que você, onde estiver, com a força da experiência de vida que teve, jamais nos esquecerá na morte.

Siga com Deus, nobre MARQUÊS DO CASSU!

Walter Bruce da Fonseca

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