ARTICULISTAS

Humanos e heróis

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 05/09/2022 às 19:55Atualizado em 18/12/2022 às 14:30
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Há tempos, fez sucesso o filme “Independência ou Morte” (1972), lançado em celebração aos 150 anos da independência do Brasil, com Tarcísio Meira como Dom Pedro I. Na memória, a cena do grito do Ipiranga, com uma produção imponente, muitos figurantes, e o famoso grito, várias vezes repetido pelo Imperador e pela multidão. Épico.

Coincidia com o que se aprendia na escola, retratando a figura heróica do rei, que fez frente ao Império Português e que, no imaginário brasileiro, quase que desembarca da história nesse ponto, indo fazer não se sabe muito bem o quê, de volta a Portugal.

Veio o revisionismo, com séries de TV e outras obras, em que se tenta “desconstruir” a pessoa do rei, seus feitos, além de toda a época. Está mais para “reconstrução”, baseada em “ah, eu queria tanto...”. Para quem acha que fake news são uma coisa muito moderna, está aí mais uma prova de que são tão velhas quanto o ser humano.

No Palácio de Queluz, em Lisboa, pode-se visitar o quarto em que nasceu e morreu D. Pedro. Ele saiu dali para libertar duas nações e, não deixando de ser um homem do seu tempo, tinha uma visão moderna da monarquia e do seu papel perante a nação. Voltou ao ponto de partida reconhecido por dois povos, ainda que uns certos “iluminados” donos da pena e das impressoras se autodesignassem seus juízes finais, o que tentam até hoje.

Agora já são 200 anos da independência e, mais uma vez, o país se aproxima de eventos determinantes no seu futuro. Vem aí uma escolha entre formas de se conduzir, fundamentalmente diferentes e que levam, de forma inevitável, a caminhos opostos.

Vai valer o que o povo decidir. A diferença é que, além do filtro imposto por aquela meia dúzia que condicionava quais ideias deveriam chegar às pessoas, agora a informação está aí, para quem quiser saber.

Para assimilá-la, é necessário sair da própria bolha e, uma vez liberto dessa zona de conforto – muito confortável, mas limitada –, ultrapassar as “sugestões” impostas pelo algoritmo onipresente e enxergar aqueles que se adiantam e se colocam à disposição para servir, com todos os seus defeitos e qualidades. No fim, são todos seres humanos, por mais que os desejemos heróis salvadores.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

 

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