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Filmes de que nos lembramos

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 15/06/2021 às 19:15Atualizado em 18/12/2022 às 14:42
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Quem aprecia cinema confirma: mesmo quando a gente não gosta do filme, gosta de tê-lo visto. Não raro, duas pessoas saem da mesma sessão relatando experiências completamente diferentes.

Recentemente, uma grande produção mostrou uma cena de luta casualmente situada num banheiro público que, depois se comentou, levou um mês a ser completada. De fato, a cena é bem feita e a luta é credível. Porém, quando tento me lembrar da sequência de fatos que levou os personagens àquele ponto, tudo se perde numa confusão de enredos cada vez mais rocambolescos, que vêm se superando uns aos outros na tentativa de causar mais impacto.

Por outro lado, no menos conhecido “Senhores do Crime” (Eastern Promises), uma luta na sauna, além de impiedosa, tem uma razão de ser da qual ainda me lembrava quando apresentei o filme a outra pessoa, anos depois de vê-lo. Conforme a história se desenvolve, testemunhamos, algo horrorizados, para onde ela caminha. Quando nos encontramos com a situação que só poderia acontecer naquele lugar, e em nenhum outro, o desenlace é brutal. O ator, conhecido pela desenvoltura com que abraça todo tipo de papel, disse, e acreditamos nele, ter sido a cena mais difícil da sua vida.

No caso de “Locke”, vemos um personagem, e somente ele, em cena, por uma hora e meia. Ainda assim, não perdemos o interesse nesse homem, e o acompanhamos até que ele chega ao destino, física e metaforicamente. Ivan Locke é um encarregado de obras que está dirigindo seu carro, de Birmingham a Londres. Monólogos, algumas interações por celular, no viva-voz, e a estrada, nada mais.

Ainda assim, depois de assistir ao filme num domingo de manhã, em casa, tinha-o mais vívido na memória do que o arrasa-quarteirão que vi à tarde, no cinema (na realidade, não seria capaz de dizer qual episódio da saga, em desenvolvimento por anos). Apercebi-me da desconexão, quando chegou a inevitável “cena da grande luta”, em que todos os muitos, muitos personagens se movem pela tela, de forma artificial e sem peso. Ciente de que o custo dos efeitos especiais limitaria a duração da batalha, desliguei-me totalmente, pensand daqui a pouco já confiro quem morre e quem se salva.

Nestas pequenas férias mentais, peguei-me lembrando do Locke, na sua viagem solitária e vida sem glamour, ainda assim mais relevante, e nada substitui uma boa e bem contada história.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova - Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica - AnaMariaLSVilanova@gmail.com

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