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Dilbert e os mundos alternativos

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 17/11/2022 às 18:03Atualizado em 15/12/2022 às 23:17
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Já há algum tempo o comediante e cartunista Scott Adams, famoso pelos quadrinhos do personagem Dilbert, propôs o conceito “uma tela, dois filmes”. É uma forma de expressar as profundas diferenças, que seguem se agravando, entre visões diferentes de mundo.

Nessa hipótese, duas pessoas se sentam para ver o mesmo conteúdo que, de fato, se apresenta da mesma forma para ambas. Porém, ao final da sessão, se lhes perguntarmos o que viram, as respostas serão inconciliavelmente diferentes.

Assim, enquanto uma enxerga um personagem cativante, preocupado com seus semelhantes, carismático e interessante, a outra vê um tipo autoritário, abominável, praticamente um criminoso. E o pior é que os filmes não são nem do mesmo gênero.

Há uma diferença crucial entre filmes de mistério e suspense. No mistério, a plateia está junto com os personagens e não sabe o que se passa. Em geral, só descobre o malfeitor na penúltima cena (a última é a conclusão). Agatha Christie era a rainha no gênero, e a cena da resolução, com todos reunidos enquanto o(a) detetive desenrola a trama, é obrigatória.

Já no suspense, a audiência sabe mais do que as figuras que desfilam, ingênuas, à sua frente. Daí vem o sofriment saber, de antemão, o desfecho trágico, inevitável. Pensam mesm “ah, tolinho... se você soubesse o que o aguarda...”. E suspiram. Hitchcock foi o maior de todos e sabia como converter qualquer história num filme de cortar a respiração. É questão de escolher o que mostrar e esconder.

Neste momento, a impressão é de que há não dois, mas vários filmes por aí. Além dos que estão vendo mistério e suspense, há os que chegaram à cena do beijo numa comédia romântica, enquanto outros olham com terror absoluto o tsunami que já aparece no horizonte. Ainda está pequeno, mas essa onda vai quebrar, cedo ou tarde. Cinema catástrofe total.

Quem está certo? Dolorosa aprendizagem na vida é constatar que ter certeza não é ter razão. A verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer. A resolução, entretanto, vai chegar para todos. Mais vale voltar às raízes e conectar-nos com nossos companheiros de jornada.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

 

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