O ano era 1994, e Senna era o herói do Brasil. Não faz tanto tempo assim, 30 anos é pouco na vida de uma nação, contudo o mundo está mudando rápido demais e é fácil esquecer o contexto daquela era.
O Brasil vivia tempos muito difíceis, em que a inflação virou hiper e ninguém acreditava que alguém pudesse resolver aquilo. Havia um sentimento de desespero latente no ar.
Éramos o País do Futebol, mas tampouco vínhamos bem no nosso esporte predileto. O título mundial mais recente já somava décadas, e a cada torneio a nossa seleção chegava favorita e saía desmoralizada, mesmo que fosse, muitas vezes, a melhor. Algo sempre acontecia.
Porém, uma coisa tínhamos. Aos domingos pela manhã, podíamos contar com Senna para levantar o moral e mostrar que podíamos ser os primeiros, os melhores, os campeões. Melhor ainda se chovesse. Ele era o “senhor das águas”.
Sem falar das corridas de classificação. Muita gente nem assistia a elas e apenas assumia que Senna ia conquistar a pole-position. Sempre com a mesma estratégia, saindo dos boxes nos últimos minutos para dar uma volta matadora.
Verdade que, num ambiente competitivo, não faltaram polêmicas, antes, durante e depois das corridas. Quanto mais apertado o placar, maior a pressão para ganhar, e ânimos fervendo para todos os lados. Houve discussões, socos e carros saindo da pista, mais de uma vez. Tudo perdoado, no final.
A excelente biografia “Ayrton, o Herói Revelado”, de Ernesto Rodrigues, conta em detalhes todo o percurso do campeão, com muita informação de bastidores que, à época, era suspeita ou mistério total. Desde relacionamentos que não se soube, até estratégias de negociação com as montadoras – estratégias que nunca vieram à tona quando Senna estava por aqui.
Entretanto, no louco ano de 1994, em que Senna morreu, o Brasil conquistou o tetra na Copa do Mundo, e o país, finalmente, venceu a inflação, com o lançamento do Plano Real. Agora temos Senna em minissérie, lembranças de tristes Copas e inflação de volta. É manter a esperança até a próxima volta.