Entre os muitos benefícios de viver em outro país está a experiência de viver realidades diferentes, como, por exemplo, o que é ser um cidadão num sistema parlamentarista de governo, como é o caso de Portugal.
Não é que não haja um presidente, há sim e é um senhor simpático, que fala muito de afetos e não quer polemizar com ninguém. Não é ele quem governa o dia a dia do país, mas, sim, o primeiro-ministro, membro do Legislativo.
Nesse sistema engraçado, o eleitor não vota numa pessoa para governar; vota num partido ou coligação. O chefe vem de brinde; é o cabeça da lista. Na campanha, ele é o rosto da proposta e só ganha se conseguir colocar no parlamento o maior grupo. Se não, vai ter que combinar com outros partidos, até conseguir a quantidade necessária de cadeiras para governar.
Esse foi o caso nas últimas eleições de Portugal. O partido então governante era de um espectro mais à esquerda e, no mais recente pleito, perdeu cadeiras e o direito de ditar os rumos do país. Outro partido mais à direita ganhou, porém a verdade é que as coisas continuaram mais ou menos iguais, tudo muito confuso.
Eis que, de repente, levanta-se uma suspeita contra o atual primeiro-ministro e ele se vale de um instrumento parlamentarista, pedindo à Câmara dos Deputados que lhe dê um sinal de apoio, no caso, uma moção de confiança. Mas correu mal e, agora, haverá novas eleições, convocadas pelo presidente.
Se há algo que caracteriza o processo todo é um desânimo geral. Dia após dia são debates sem fim, dedos apontados para todos os lados e pouco vislumbre de um caminho claro. É a terceira eleição em três anos e as caras que se apresentam são as mesmas de sempre, com poucas exceções.
A expressão “empty suit” (terno vazio) é muito utilizada para descrever pessoas que se apresentam bem, mas não têm conteúdo. Dizem platitudes em série e, caso necessário, podem ser trocadas por qualquer outra do mesmo clube, e é só seguir o jogo. São os genéricos de plantão, para o que precisar.
É um pouco a sensação do momento. Pouco se acredita que a eleição, seja para que lado vire, vá provocar grande mudança nos destinos do país. Um indicativo de que, enquanto o povo continuar se conformando com líderes medíocres, é exatamente o que terá. Dia 18 de maio, veremos.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica AnaMariaLSVilanova@gmail.com