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O engenheiro irlandês

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 24/06/2025 às 17:46
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Há pessoas cujo caminho profissional é mesmo inusitado. Assim era o engenheiro mecânico John, um irlandês muito simpático, que esteve no Brasil no início dos anos 90.

Tendo trabalhado muitos anos em montagem eletromecânica, John se especializou em uma determinada máquina de fiação. Para que o fio saísse perfeito, era absolutamente fundamental que a máquina estivesse perfeitamente alinhada, e era apenas isso que John fazia, viajando por todo o mundo.

John aprendeu três expressões em português. A primeira delas, “bom dia”, que ele repetia com generosidade e alcance geral. Não apenas aos supervisores e chefes que vinham ver como estava o trabalho, mas a qualquer um que se aproximasse; o homem era mesmo simpático e educado. Às vezes, o “bom dia” avançava pela tarde, mas todos entendiam a proposta.

“Obrigado!” saía com o típico sotaque de quem fala inglês, como o “r” retroflexo, mas era perfeitamente inteligível. John passava o dia pedindo às pessoas ao seu redor que fizessem coisas e se lembrava de agradecer a cada vez. Impecável.

“Crepe!” John lidava com equipamentos muito complexos, tecnologia de ponta. Passava parte significativa do seu tempo olhando projetos e plantas, destrinchando onde estava o quê. A dificuldade era “traduzir” tudo em termos práticos para os trabalhadores locais. Daí o “crepe” que era, claro, fita crepe, essa invenção tão vital para a engenharia.

John ia identificando posições importantes na própria máquina com números, letras e símbolos, escritos em fita crepe e colocados em pontos estratégicos. Gênio da engenharia e da comunicação.

Além disso, John era um poço de histórias variadas e bem contadas. Entre muitas, ele comentou sua passagem pelo Irã, alinhando máquinas por lá. Contou passagens engraçadas, suas impressões sobre o país e as pessoas.

Em tempos difíceis, é uma boa lembrança de que os povos envolvidos nas guerras são feitos de gente de verdade que, em outro momento, tiveram vidas normalíssimas, cheias de projetos e muito trabalho.

Pela volta de dias melhores. E que todos encontrem a paz.

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