O excelente filme “O Preço de Uma Verdade” (Shattered Glass, 2003) conta a história do jornalista Stephen Glass. Trabalhando na prestigiada revista “The New Republic”, ele viu seu mundo desmoronar quando se descobriu que metade dos artigos que ele publicou eram, total ou parcialmente, ficção.
O castelo de cartas desmoronou quando um veículo de imprensa concorrente começou a fazer perguntas legítimas sobre a acuidade das informações do jovem profissional, até que seu editor começou a puxar o fio e constatou, chocado, o tamanho da fraude.
O filme é excelente e a atuação de Hayden Christensen como o manipulativo e narcisista Glass, impecável. Ele cultivava uma imagem de bom moço, o colega presente, sempre “apoiando” os colegas que não conseguiam matérias tão interessantes e espetaculares quanto as dele. Tudo fachada.
Pois agora, aparentemente, pode estar se desenhando história muito mais incrível no Brasil. Um juiz de Direito, afinal, não era quem dizia ser, um caso de identidade falsa, e por mais de quarenta anos. Um paulista do interior que gostava de se fazer passar por lorde inglês.
Dizia que viveu na Inglaterra muitos anos, que fazia sessões com fonoaudióloga para perder o sotaque inglês e chegou a tirar férias a tempo de, estrategicamente, desaparecer durante o casamento do príncipe daquele país, para voltar, muito misterioso, dizendo não poder contar nada. Coisas de nobreza.
O embuste foi possível em tempos de pouca tecnologia, quando o então jovem conseguiu um documento de identidade com o nome e filiação fabricados. A partir daí, seguiram-se outros documentos e foi com esse personagem que ele frequentou a Faculdade de Direito, entrando, mais tarde, na carreira de juiz.
Mas os zelosos serviços públicos digitalizaram seu documento original e, agonia dos embusteiros, cruzaram informações e viram a duplicidade. Agora vai ajustar contas com a Justiça.
Tem tudo para virar filme, novela ou série. À parte o tema da identidade, o senhor em questão tinha uma vida normalíssima. Excetuando pelo nome pomposo, e fictício, era apenas mais um profissional bem-sucedido, numa carreira bastante exigente, porém comum. Para quê?
Fica para os próximos capítulos da saga. Vaidade? Trauma infantil? Uma brincadeira que foi longe demais? Não perca, numa tela perto de você.