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Aquarela do Brasil

Cada uma representava algo, cada uma se valorizava, mas nenhuma se dava conta da sua importância na composição do todo

Julia Castello Goulart
Publicado em 04/04/2016 às 08:41Atualizado em 16/12/2022 às 02:59
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  Aquarela do Brasil

A paleta da qual o pintor pintava os mais diferenciados quadros, as mais variadas cores se faziam presentes. Cada uma representava algo, cada uma se valorizava, mas nenhuma se dava conta da sua importância na composição do todo. Um dia, o pintor, um pouco distraído, talvez por ser muito frágil, não se deu conta que duas cores se sobressaíam e tentavam apagar a presença das outras. As outras cores foram se misturando, se subordinando às duas grandes cores, até que muitas desapareceram por completo. As cores vermelha e azul, vitoriosas, ao mesmo tempo passaram a não se tolerar. De uma infinita possibilidade de tonalidades de vermelho, um único vermelho radical se impôs. O mesmo aconteceu com o azul, das infinitas tonalidades se tornou um único azul que acreditava ser a cor que representava o pintor. O vermelho começou a querer ser sempre o escolhido pelo pintor, queria se manter impune no poder. A cor azul também queria.

A cor azul se manifestou. Defendia discursos de ódio sempre contra a cor vermelha, acusando-a de estar sempre no poder, de influenciar o pintor a querê-la mais. Mas a cor azul estava sendo hipócrita, pois o que queria era voltar para o poder, onde acreditava ser uma cor melhor para os efeitos no quadro. A cor vermelha também se manifestou. Também defendia discursos de ódio contra a cor azul, de estar querendo roubar-lhe o posto de poder. Mas também estava sendo hipócrita, já que estava usando de vários artifícios para se manter, por mais tempo, na sua posição de controle.

O pintor, triste, não sabia o que fazer. Suas pinturas já não eram mais as mesmas. Já não possuíam cores e representações diferentes. Ele tentava se erguer, mas as cores azul e vermelha, cegas na busca pelo poder, não percebiam estar matando o mais importante para elas, o próprio pintor. Pois era ele que dava vida, oportunidade para elas serem cores diferentes e conviverem na mesma paleta. Existiram por muito tempo, e ainda se vê alguns por aí, falsificadores que utilizam apenas uma cor na paleta, não permitindo nunca o nascimento de outras cores. Alguns de tão bons, eram confundidos com verdadeiros pintores.

Como toda boa história se espera um final melhor ainda. Mas o que será de um jovem pintor subordinado a duas cores que se criticam, diferenciam, mas não conseguem perceber a importância das outras cores que davam diferentes opiniões, diferentes ideologias em um mundo que não pode ser repartido em apenas azul e vermelho. É perceber a importância da tolerância, do respeito às diferenças, pois só assim se tem um quadro justo e diversificado. Eu só espero que a nosso querido pintor, que tanto lutou para permanecer em um período de falsificadores, consiga se reerguer, pois nada é mais alegre que ver um pintor pintando um quadro, como uma democracia sendo exercida livremente em um país.

Julia Castello Goulart

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