ARTICULISTAS

Aprender as lições

Tenho, em meu pequeno quintal, um pé de acerola, cuja fronde encontra-se com a da jabuticabeira. O primeiro, talvez querendo imitar a outra, tornou-se também uma árvore de porte grande

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 13/02/2010 às 00:55Atualizado em 17/12/2022 às 05:59
Compartilhar

Tenho, em meu pequeno quintal, um pé de acerola, cuja fronde encontra-se com a da jabuticabeira. O primeiro, talvez querendo imitar a outra, tornou-se também uma árvore de porte grande e causa admiração naqueles que o veem. Como ele se encontra em uma jardineira que ladeia o muro, aconteceu que uma das trepadeiras, também plantada em espaço próximo, foi subindo, subindo, e nas mais altas ramagens do pé de acerola, fez brotar suas flores cor-de-rosa em cachos vistosos. Quem olha, pensa que as flores pertencem àquela árvore, tal a integração com a trepadeira.   Um dia, tendo ganho umas orquídeas floridas, murchas já as flores, resolvi amarrá-las ao tronco do pé de acerola. Nele, elas se deram bem, e logo suas garras –assim parecem – foram abraçando o tronco. Uma delas já ostenta flores amarelas, demonstrando o quão foram bem recebidas pela árvore. Num outro dia, visitando uma floricultura, me veio à cabeça comprar duas mudas de pés de uva. E comprei. Aí veio o problema: plantá-los onde?, já que o espaço de meu quintal não é de terra, apenas uma larga jardineira rodeando o muro.   Lembrei-me do pé de acerola: e, uma de um lado do tronco, outra do outro lado, lá foram plantadas as duas mudas de parreira. Passou o tempo e, com pesar, vi que as duas mudas estavam secas – não haviam gostado do lugar. Fiquei triste, mas entendi: a natureza tem seus segredos e suas exigências que, nem sempre, entendemos. E o tempo passou. Um belo dia minha ajudante, Marlene, me chama, eufórica: mais no alto, uma das mudas de parreira ostentava folhas verdes e viçosas em direção aos galhos do pé de acerola. A outra muda, realmente, morrera. Em um dos momentos de descontração na varanda de minha casa, Marlene, cuja simplicidade parece aguçar ainda mais sua sensibilidade em face da natureza, com seus bichos e plantas, saiu-se com essa: “Este pé de acerola é muito paciente e tolerante: a trepadeira está lá em cima, cheia de flor; as orquídeas estão verdes e bem vivas; a parreira lá vai subindo nos galhos; e o pé de acerola ainda dá frutos! É muita aceitação, tolerância demais.”   As palavras encontraram eco em meus pensamentos: fiquei pensando em como a natureza se apresenta, tantas vezes, mais solidária que o ser human ela sabe – mistério que não entendemos – que é possível ser, em plenitude, mesmo que nossas vidas precisem ser também ocupadas por aqueles que necessitem de nosso acolhimento, de nossa ajuda, de nossa solidariedade. A natureza, sim, com seus encantos, me mostrou, claramente, pela percepção sensível da Marlene, que é possível, sem prejuízo algum, conviver de forma solidária com nossos semelhantes, assim como faz meu pé de acerola: propicia sombra, ampara as orquídeas – que lhe sugam a seiva, permite que a trepadeira derrame flores vibrantes no alto de sua fronde, aceita a parreira que, aos poucos, vai abraçando seus galhos e – máximo de desprendimento! – ainda produz frutos.   E nós, seres humanos, que muito pouco toleramos em relação ao outro, precisamos, com urgência, aprender as lições que a natureza, muitas vezes silenciosa, nos apresenta.

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por