Apenas luz

Noite escura, céu silente, fulgor no alto. As estrelas brilham. As estrelas piscam. As estrelas hipnotizam.

O que se esconde por trás do brilho de uma estrela? De onde vem sua cor, parecendo vermelha, ou laranja, ou simplesmente luminosidade de apenas luz, em quase transparência?

O que nos diz a distância entre nossos anseios e o piscar de uma estrela? Algum ser a habita, algum ser encarregado de regar a flor-luz, alimentando-a para que não se apague?

O que nos fala a solidão de uma estrela, no dizer de Manuel Bandeira, “tão alta, tão fria”? O que nos diz sua solidão frente aos nossos anseios?

Como vive a estrela naquele céu escuro, igual a nossas almas que, muitas vezes, no vazio da solidão, assopram a pequena chama que ora teima em apagar-se, ora em manter-se acesa?

Há mistérios por onde andamos. Há mistérios nas coisas que nos rodeiam. Há mistério na luz – pequena estrela – que ilumina o olhar daquele que ama.

Estrelas por toda parte. Estrelas que se assemelham a pássaros, cintilando no céu azul da manhã de abril.

Aldebarã! Agora luminosidade estonteante. “A nenhuma chamarás Aldebarã, assim a advertência na crônica de Rubem Braga. Talvez surgisse a decepção, a também estonteante imprevisibilidade em relação ao ser humano. Chamar de Aldebarã é eleger o ser amado ao grau mais cintilante das constelações humanas. Aquele que envolve totalmente em sua luz, porque apenas luz.

Mas ao meu amor eu chamo Aldebarã, estrela maior, sem nenhum medo de que a luz arrefeça; sem nenhum temor de que a memória se apague; na certeza de que a distância desaparece, o tempo se reduz a minutos, o espaço se transforma  naquele espaço interior, sejam quais forem as plagas ou as dimensões, temporais ou espirituais.

A você, Murilo, eu chamo Aldebarã, porque os espaços de minha alma e do meu coração transbordam a luminosidade irradiada de seu ser, na imensa luz em que hoje se encontra.

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro [email protected]