Aceitamos de bom grado a ideia de que a vida começa aos quarenta. Este número é um marco na trajetória de vida; é quando em geral se atinge um grau elevado de maturidade
Aceitamos de bom grado a ideia de que a vida começa aos quarenta. Este número é um marco na trajetória de vida; é quando em geral se atinge um grau elevado de maturidade, de responsabilidade. É também o início da fase dos enta, fase que só termina quando se completam cem anos de idade. Uma jornada e tanto. Muitos têm chegado lá. E alguns, com muita disposição.
Fico pensando como seria se o miraculoso número quarenta fosse adotado como velocidade máxima permitida em determinadas ruas e avenidas de movimento intenso e onde hoje acontecem muitos acidentes.
Na verdade, todos sentimos que é necessário dar uma sacudida no conturbado trânsito de nossa cidade, tantos são os acidentes. Muitos desses acidentes registram mortes e, outros tantos, sobreviventes que passam a carregar uma carga enorme de sofrimentos.
A diminuição da quilometragem máxima permitida, que fique claro, em algumas vias específicas da cidade, para quarenta quilômetros por hora exigiria que o motorista, para compensar a diferença, saísse de casa um pouco mais cedo para atingir o seu objetivo a tempo. Haveria, entretanto, uma diferença enorme no trânsito. E todos poderiam chegar inteiros ao seu destino. Inclusive os motoqueiros, que se tornam mais vulneráveis em termos de acidentes.
No horário do rush é possível observar como eles se arriscam, na ânsia de ganhar espaço para chegar mais cedo a algum lugar, às vezes ultrapassando os sessenta quilômetros permitidos em certas vias. É a pressa de chegar... ao hospital e, se não tiverem tanta sorte, ao campo santo.
Uma sacudida no trânsito se faz necessária, com abrangência total: pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas. Todos devem ser envolvidos nessa campanha de sobrevivência. Se em outros lugares a selvageria no trânsito foi domada, podemos fazer isso também aqui.
Muitas pessoas de idade mais avançada, mas de boa saúde, podem conseguir estar vivas para celebrar a sua saída da faixa dos enta. E são muitos os que quase chegaram lá, mas o nosso perigoso e violento trânsito não o permitiu. Existem mil maneiras de morrer. Não é preciso ajuda do trânsito para aumentar a estatística dos óbitos.
O que mais nos assusta quando se fala em acidentes é que eles já estão fazendo parte da nossa rotina. Nem mais nos assustamos com notícias a respeito. Perder amigos no trânsito é comum. Medidas podem e devem ser tomadas para que essa rotina seja quebrada e o trânsito fique civilizado, o que já aconteceu em muitas cidades.
Sejamos, pois, civilizados nos quarenta quilômetros, para usufruirmos em plenitude da vida que começou aos quarenta e para permitir que outras pessoas também experimentem essa felicidade.
(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro