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Ano Novo

Alguém me pergunta o que acho do Ano Novo de 2010. Para ser sincero, não sei. Não tenho dons adivinhatórios para tão complicada tarefa. Há pouco li numa revistinha

Padre Prata
Publicado em 19/12/2009 às 19:55Atualizado em 20/12/2022 às 08:56
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Alguém me pergunta o que acho do Ano Novo de 2010. Para ser sincero, não sei. Não tenho dons adivinhatórios para tão complicada tarefa. Há pouco li numa revistinha, enquanto esperava minha vez de consulta, as declarações de um estranho senhor, vestido de branco e turbante, sobre o que vai acontecer no próximo ano. Tinha um punhado de pedras diante dele, olhava fixamente aquelas pedrinhas e fazia suas previsões. Afirmou que morrerá de câncer um famoso político. Mais: a situação no Oriente Médio vai agravar-se. Haverá perigo de guerra entre duas nações. Garantiu que continuarão os tornados, os terremotos, as enchentes e morrerão milhares de inocentes. Um grande bloco de gelo descerá do Polo (não falou qual) e ao se chocar com um país super-habitado provocará uma hecatombe. Disse ainda que um grande líder morrerá assassinado por um terrorista. Disse muitas coisas mais, só que eu não tenho espaço para contar tudo. Fique avisado. A coisa vai  ficar preta.

Quanto a mim, que não tenho esses grandes poderes de entrar no futuro, fico inteiramente sem-graça em não ter nada para dizer. Só sei de uma: vai haver eleições. Sou péssimo para ler o futuro. Aliás, com minha idade, nem mesmo tenho mais segurança em saber o que se passou no passado.

“Mas porém”,  como dizia o Gumercindo, se não posso dizer o que vai acontecer, posso dizer o que gostaria que acontecesse. Começo pela Igreja. Gostaria que o poder fosse menos centralizado, que os bispos não continuassem tão totalmente dependentes das decisões da Cúria Romana. Gostaria que fossem ordenados padres de preferência  homens casados, com profissão bem definida e formação cristã digna de um representante de Deus. Gostaria que os bispos fossem escolhidos pela própria comunidade de sacerdotes e leigos. Gostaria que houvesse o estudo de uma pastoral relativa aos recasados. Muitas outras coisas eu gostaria que acontecessem, mas, como não posso esperar por um milagre, fico por aqui. Só gostaria de acrescentar que houvesse na Igreja não algumas reformas superficiais, mas uma verdadeira mudança de paradigma. Fico muito entristecido quando percebo que as crises dentro da Igreja se avolumam e muitos fiéis se afastam.

Gostaria que o povo não se iludisse com a propaganda política. Como o próximo ano é de eleições, já estamos vendo na televisão os programas partidários que nos envergonham pelas reformas que prometem, pela honestidade que apregoam, pela desfaçatez com que falam em “um novo tipo de governo em que haverá uma total mudança de qualidade política”.  Peço a Deus que o povo não acredite neles. Que haja um modo qualquer para que se possam detectar os aproveitadores, os corruptos, os falsários, os mentirosos. Que fôssemos governados por homens e não por aproveitadores da credulidade popular. Que nossos olhos estejam bem abertos. È preciso deixar de ser bobo. Gostaria que todos tivessem oportunidade de viver decentemente, como pessoas humanas.

No entanto, lá bem no fundo de mim mesmo, uma voz me responde: “O Ano Novo continuará velh os mesmos lobos e as mesmas ovelhas”.

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