Na vida, tudo depende do ângulo que se analisa. Do seu lado, pode haver uma visão não percebida pelo outro lado. Uma sombra própria, uma perspectiva individual. Depende de quem vê, quando vê e como vê. Cada leitor interpreta um texto individualmente.
Tem chamado minha atenção, porém, outra percepção. As várias interpretações do mesmo fato que pessoalmente fazemos ao longo do tempo. Mesmo texto, mesmo leitor. O tempo brinca conosco. Infância, adolescência, maturidade e velhice... Uma mesma pessoa que se transforma conforme o passar dos tempos.
A interpretação do mesmo Evangelho que ouvia quando criança, na catequese, com o mesmo texto, já fiz de várias e várias formas. Chama-se evolução. Desenvolvimento. A perda da inocência e o acréscimo de informações científicas vão moldando cada vez de forma diferente a leitura da vida. E a vida se refaz a cada dia, para cada um e para cada qual na sua morada do tempo. Existem várias dimensões certamente.
Às vezes, há até de se desconfiar da Ciência, que, aliás, também é sempre revista. Portanto, nada demais nisso. E, depois de tantos giros, descobri algo extraordinário. Não há exato, atente-se. Percebi que o relógio daquele tempo de criança, em que via o ponteiro andando, passo a passo, simetricamente, igualmente, numa fração que me parecia singela e inalterável, exata e imutável... era mera ilusão. Aquela impressão àquele tempo remoto de criança, jovem, inocente, a rigor, era inexata, disso sei hoje, seguramente. Afinal, o tempo do segundo, do minuto, passa hoje tão rapidamente, corre-corre urgentemente, embora mova-se o ponteiro indiferente de igual forma, no mesmo espaço, matemático, geométrico. Do mesmo jeito vai ele, tic-tac tic-tac, sempre para frente. Mas, agora, surpreendentemente, no mesmo relógio, com o mesmo eu leitor, tudo tão diferente.
Vejo assim tudo relativo... e compreendo que o mesmo amor que eu dizia antes é hoje, como na leitura do ponteiro, muito diferente! As mesmas frases, agora mais graves, mais profundas, mais urgentes. Mais maduras, mais doces, mais consistentes.
A distância do fim alterada, mais próximo, mostra-nos uma vida mais premente, o tempo do segundo de outrora, o minuto, a hora, que passava lentamente, hoje corre, diariamente, avisando viva a vida que se esvai rapidamente. Ângulos diferentes, dimensões e dimensões convivendo invisivelmente.
Olhe seu relógio e avalie o seu compasso nessa vida tão sagrada, tão importante, nesse tempo, vida tão única para seu ser vivente.
