Dizem que conhecemos de fato os amigos nos momentos difíceis, quando os verdadeiros aparecem. Os demais seriam oportunistas da amizade. Mas tal assertiva não é de todo tão exata e correta. Há aqueles conhecidos que somente se mostram amigos nas horas difíceis. São excelentes para empurrar cadeira de rodas, molhar boca com algodão, arranjar garrafada de cura. Em verdade, não pela excelência da amizade, mas pela condição de se mostrarem solidários ante o infortúnio ou a desgraça do conhecido. Ficam em ocasional situação de superioridade. Na realidade, mordem e se contorcem internamente pelas vitórias do amigo, numa inconfessável inveja silenciosa que os corrói. Sinceramente não comungam jamais do êxito do amigo. Contudo, na primeira chance que têm de se mostrar generosos ante a dificuldade do amigo, aparecem para socorrer e até para sugerir que os demais amigos efetivamente amigos não são. Criam uma situação de dúvida, de ingratidão e cobrança de fidelidade exclusiva, para bloquear a relação e o efeito do brilho da amizade dos outros. No íntimo, o que querem mesmo é testemunhar o infortúnio e criar uma dívida pessoal, uma vinculação abjeta pela intenção original. Visam poder se mostrar maiores com o manto de solidários salvadores. Invejam até, e também, a verdadeira amizade. Pois é! Há amigos e amigos. Os de todas as horas e os amigos das horas convenientes. Alguns só para comungar das alegrias, aproveitar em festas e comemorações em momentos de lazer, outros que preferem brindar à tristeza, à dor, ao infortúnio, e os que de fato verdadeiros amigos são, para as alegrias e para as tristezas!
(*) Juiz de Direito