ALTM - 48 Anos
Em 15 de novembro, a Academia de Letras do Triângulo Mineiro completou seus 48 anos
Em 15 de novembro, a Academia de Letras do Triângulo Mineiro completou seus 48 anos.
Fundada em 1962 pelo idealismo dos intelectuais Edson Prata, José Mendonça, já falecidos, e Monsenhor Juvenal Arduini, nos moldes da Academia Francesa de Letras, e com apenas quarenta sócios, conhecidos como imortais, a Academia tem marcado sua presença na área cultural em nossa região.
Tive a honra de presidir a Entidade por vinte e dois anos, vivenciando momentos especiais de muita alegria e, por que não, momentos de muita angústia.
No respeitoso trato com o poder público, ao longo de onze mandatos, tivemos a alternância de situações agradáveis, com o acolhimento de pedidos de interesse da Academia, e de situações bem desagradáveis, criadas por ocupantes de cargos de confiança, talvez sem o conhecimento do prefeito. Para exemplificar, registramos uma ligação telefônica para a minha residência, já ao cair da noite, em que um cidadão que se identificou como ocupante de alto cargo em uma Secretaria perguntou-me, à queima-roupa: “O senhor já arranjou uma casa para onde possa mudar a Academia? A Secretaria tem urgência em ocupar o local onde a Academia está instalada.” Começou, então, a correria, felizmente com um bom final para a Entidade. E para o presidente, claro!
Mais um cas Uma Diretora da Biblioteca, senhora Laís Bilharinho Dorça, grande amiga e protetora da Academia, ligou-me certo dia, bem cedinho, para informar que um Diretor da Fundação Cultural esteve na Biblioteca solicitando-lhe que dissesse a mim para desocupar a sala da Academia, pois o prefeito precisava da sala, para cedê-la a uma outra entidade. A nossa protetora, conhecendo bem a situação da Academia, alegou-lhes que a sala era ocupada em virtude de uma Lei. E o Diretor foi incisiv “É fácil fazer outra Lei cancelando tudo...”. Pois é! Nem tudo foram flores para o presidente.
Mas numa tarde fomos convidados para irmos até a casa onde hoje estão alojados os vários Conselhos comunitários. Lá estavam o futuro presidente da Academia, José Humberto Henriques; os secretários Municipais, Túlio Reis e o saudoso Osorinho e o prefeito Marcos Montes, que me perguntou: “Você quer esta casa para sede da Academia?” “Quero”, respondi. E o processo de doação seguiu. Só que esbarrou na vontade do sucessor do prefeito doador e virou pó... Havia sido um sonho bom!
Na necessária reforma do prédio da Biblioteca Municipal, que ficou maravilhoso, sobrou para a Academia. Isto é, ficou para a ALTM um espaço que serve como endereço postal, mas inadequado, de momento, para a realização de reuniões. Entretanto, há esperança no ar, uma vez que os intelectuais sabem viver de esperanças. Morrem os intelectuais e a esperança fica. Ela sempre morre por último. É certo que a Academia um dia terá uma sede à altura de suas tradições e do serviço que presta à comunidade triangulina.
E em nossa trajetória na Presidência da Academia, comemoramos de maneira condigna os 25, 30, 35, 40 e 46 anos da Entidade. Festas que ficaram na lembrança da comunidade uberabense.
Assim como os mandatários de cargos públicos recebem dos Tribunais de Contas o aval de suas boas gestões, ou não, tive, também, o meu tribunal de julgamento. Como teriam sido meus vinte e dois anos à frente da Entidade? Pois foi no dia em que fui recolher o voto do fundador, para a eleição da atual presidente, professora Terezinha Hueb de Menezes, que recebi a avaliação das minhas onze gestões. Monsenhor Juvenal Arduini colocou o voto dele num envelope, que lacramos devidamente. E ao entregar-me o voto, com serenidade, pausadamente, segurou-me as mãos e disse, olhando-me nos olhos: “Você fez um bom trabalho para a Academia!”. Fiquei feliz!
As lutas, os cansaços, as amolações ficaram esquecidos. Restaram as muitas alegrias que a beleza do cargo de presidente me proporcionou.
(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro