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Alea iacta est

O conhecido jargão atribuído a Júlio César

Savio Gonçalves dos Santos
Publicado em 06/07/2012 às 20:22Atualizado em 19/12/2022 às 18:40
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O conhecido jargão atribuído a Júlio César proferido diante da decisão de entrar em território romano – proibido pela lei – com suas legiões, ainda hoje levanta discussões. César fazia menção a um comportamento que tentava explicar a suposta imprudência em tal ação; por isso, “a sorte está lançada”.

Vertendo o episódio militar, com efeito político, para a contemporaneidade, a sociedade brasileira vai se aproximando de outra eleição, agora, municipal. Candidatos e candidatas se acotovelam para ver quem tem mais espaço no cenário social. Abraços em crianças, que em dias “normais” seriam impensáveis, se tornam constantes. Chama-se a todos de amigos, de amigas, companheiro, companheira, numa demonstração filial, quase ágape... bebe-se “cafezinhos” suportando o amargor dos mesmos, ou contendo as úlceras existentes, dando tempo, ainda, pra sorrir para as câmeras e para os capachos de plantão. O eleitor se torna o centro das atenções! A família desse eleitor se torna a melhor família existente, sem tocar no assunto de auxílios financeiros, ou mesmo favores a serem barganhados.

Do lado oposto não é diferente. Alguns eleitores se espremem entre seguranças, policiais, cordas e grades, para simplesmente tocar a mão do seu candidato, numa espécie de transfusão de poderes sobrenatural. Endeusam-se os políticos de tal forma, que se esquece de quem se é. Entra-se num estágio de esquizofrenia tal que se faz de tudo, e o impossível, simplesmente para demonstrar ao candidato (que não quer saber, ou ver) que o ama. Isso sem falar no quão intenso se torna a relação que começa a nascer. A troca de “personas” é contagiante, e impressionante; tanto do candidato, quanto do eleitor.

O Brasil é um dos poucos países onde o político tem tamanha consideração. Onde eles dificilmente são cobrados pelo que fazem, a menos que estejam vivendo de corrupção, daí, quem cobra não é o povo, mas sim, a aliança, ou as alianças feitas. E, como se vê, a cada dia, a corrupção é a área econômica que mais cresce no país.

Aqui, na Terra de Vera Cruz, ser político é merecer crédito fácil e rápido; é claro que isso não é de graça, exige muito trabalho. Para se alcançar o patamar de um político-deus é preciso que seja benquisto pela população. Para isso, o político deve investir, pesadamente, em propagandas, divulgando e anunciando aos quatro ventos os seus feitos, tomando como seus, mesmo que financiados com dinheiro público. Deve-se gastar, sem dó, com elefantes brancos; investir intensamente, em caixa dois; lembrar-se de se isentar-se da culpa arrumando um bode expiatório; providenciar álibis para a Polícia Federal; comprar juízes corruptos; e claro, o mais importante, promover festas, assistencialismo, ser comunicativo, midiático e, se mesmo assim não der, basta ser palhaço.

Evidentemente que a conta disso tudo fica com o povo, que, infelizmente, não resolve atravessar o Rubicão da ignorância para derrubar o sistema; afinal, dá muito trabalho... e quem tem tempo pra isso? E ainda, não vai adiantar de nada, pois nada muda... é preferível tratar bem o político-deus, pois ele rouba, mas faz!

(*) Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e professor universitário

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