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Álcool e adolescência

Estimado leitor, nunca os adolescentes ingeriram tanta bebida alcoólica, às vezes, até mesmo com o consentimento dos pais. Consentimento esse que, infelizmente

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 13:10
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Estimado leitor, nunca os adolescentes ingeriram tanta bebida alcoólica, às vezes, até mesmo com o consentimento dos pais. Consentimento esse que, infelizmente, soma-se, hoje, a uma série de letras de música que fazem apologia ao uso do álcool.

Recentemente, dois dos mais populares artistas brasileiros gravaram uma música que sugere que qualquer problema pode ser resolvido desde que o sujeito porte uma “latinha na mão”. Isso pra não dizer de outra, que, além de incentivar o uso do álcool, termina o seu refrão com um palavrão pronunciado de forma errada, cometendo-se um dos mais acintosos erros de português dos últimos tempos.

A ética dessas letras persuade os jovens, dizendo que eles precisam, necessariamente, fazer uso do álcool. Resultad indivíduos, ainda em formação, expondo-se aos enormes riscos trazidos pela ingestão excessiva de bebidas alcoólicas – que, é sempre bom lembrar, são ilicitamente vendidas para menores.

A adolescência é um momento da vida em que o sujeito inicia um processo de construção da sua identidade, e alguns hábitos que são formados podem persistir na vida adulta, como, por exemplo, o uso abusivo do álcool.

O ser adolescente compreende a necessidade de buscar o conhecimento de sua individualidade, biológica e social, no mundo que o cerca, tentando acompanhar e entender as transformações rápidas que ocorrem em seu corpo, ao mesmo tempo em que procura evoluir, gradativamente, da identidade dependente infantil para a independência do adulto. Portanto, o adolescente é um ser naturalmente fragilizado, e as indústrias do álcool, sobretudo, se aproveitam, inescrupulosamente, dessa fragilidade para vender seus produtos.

Ao constituir sua identidade, o adolescente une-se a pessoas com quem tem afinidades, formando, assim, os grupos, nos quais todos se identificam, incorporando os (maus) hábitos destes e abandonando os seus próprios.

Para combater esses possíveis maus comportamentos, o adolescente precisa ter em casa um porto seguro. O grande problema é que muitos deles, em casa, encontram é a mais profunda solidão (não é por acaso que muitos deles passam tardes e noites inteiras na Internet e em similares). Ao invés do lar ser fonte de referência e lugar de orientação, é nele, infelizmente, que muitos dos desvios começam. A ausência da família e a falta de bons exemplos fomentam esses desvios.

Obviamente, não ignoro que muitos pais, pelos mais variados motivos, não desfrutam de tempo com seus filhos. Mas é justamente porque passam pouco tempo com eles, que precisam valorizá-los ao máximo. Se, ao invés de receber atenção e carinho, o adolescente encontra a permissividade para descambar em atos de irracionalidade – e a ingestão excessiva de álcool é, sem dúvida, reflexo dessa irracionalidade –, como farão para internalizarem princípios de retidão?

Há um outro vértice nessa discussão que precisa ser levado em conta: o papel da escola no tocante à prevenção do uso de bebidas alcoólicas por parte dos alunos.

Existe uma corrente de pensamento, defendida por alguns pais e professores, que não concorda com o envolvimento da escola em assuntos que não sejam estritamente pedagógicos e, dessa forma, o alcoolismo (e outros temas) não deveriam ser tratados na esfera escolar. Esse modelo de escola não existe mais.

A escola responsável, prefiro denominá-la assim, é aquela que assume sua legítima vocação de lugar de educação, devendo abrir espaço para o debate em torno do uso cada vez mais precoce de bebidas alcoólicas por parte dos adolescentes. Cabe ao professor, como agente provocador de mudança, ofertar a orientação necessária a fim de que seus alunos vejam os perigos trazidos pelo uso excessivo de álcool. Não se trata de dar lição de moral nem incentivar o julgamento dos maus pelos bons. A sala de aula, como espaço para o debate e a tomada de consciência, é ferramenta de enorme importância para a orientação dos adolescentes.

De mãos dadas, sem medo e unidos, a família e a escola terão mais chances de combater o alcoolismo na adolescência. Nossos filhos e as gerações futuras agradecem.

(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira e da Facthus

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